quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Amarração

Quem está ligado a quem? E quem influencia a quem?

Interessante, senão cômico (ou talvez estranhamente amarrado), perceber a reação das pessoas à “quase cassação” do presidente do Senado, Renan Calheiros. Se por um lado os discursos apontam para a vitória da democracia, por outro apontam para a vitória da democracia. Ops! Não há erro? Não. Seja positiva ou negativamente este processo revela a verdadeira democracia. Não a dos discursos eticamente politizados; nem a da utópica visão de participação real de todos; mas, a do governo do povo, o que inclui popularização.

Esta é a verdadeira, e cruel, democracia. Quem influencia a quem? O povo é um reflexo de seus governantes ou os governantes são um reflexo do povo? Vejamos:

Quem insistente e broncamente suja as ruas?
Quem constrói clandestinamente, ignorando as recomendações?
Quem polui os rios?
Quem paga a “senhora” propina?
Quem luta diariamente para se dar bem, mesmo que tenha de desrespeitar o próximo?
Quem sonega imposto?
Quem dirige descaradamente na contra-mão?
Quem sonha com conforto, mesmo que à míngua do miserável?

Estas são algumas das atitudes popularizadas que revelam mais a hipocrisia do povo do que a desonestidade de alguns políticos. A impressão que se tem é a de que os políticos aproveitam sua chance para fazer aquilo que a maior parte do povo faria se tivesse a oportunidade de ter tamanha autoridade e contatos.

Há um ditado popular (portanto, democrático) de que o povo tem memória curta. Talvez não seja memória curta, no sentido de que se esquece com extrema facilidade; provavelmente, seja exatamente o oposto: boa memória, incomodada pela consciência que lhe acusa por enxergar nas ações de muitos políticos aquilo que é eticamente inaceitável, porém, que lhe é comum no dia-a-dia.

Há uma inegável amarração entre o povo e seus representantes: estes representam maravilhosamente o povo! Talvez, você afirme: “Mas eu não sou assim!”. Que bom! Mas não terá como negar que o povo o é. Então, você não seria um fiel representante do povo no Senado Federal.

Para que o Senado seja um exemplo vibrante de conduta e decisões que em tudo vise o bem de todos, a começar pelo do próximo, é preciso que ele se liberte da “democracia burra”, popularizada pelo povo brasileiro. É preciso que ele não seja simplesmente representante do povo, mas também seu professor daquilo que se espera da população brasileira.

Oração, e vida à luz dos princípios de Deus não fazem mal a ninguém. Ops, fazem sim. Fazem mal à democracia do povo.