sábado, 17 de novembro de 2007

Por quê?

Pergunta que revela a existência de um enigma, algo não entendido, e que geralmente dói. É preciso que o não-entendido doa para que surja a pergunta. Há muitas coisas que não entendemos, mas elas não doem. Não doendo, a pergunta não surge. Fazemos a pergunta numa tentativa de diminuir a dor, para dar sentido à dor.

“Por que você falou desse jeito?”
“Por que não me ligou?”
“Por que quer terminar o relacionamento?” ...

Quem pergunta “por quê?” deseja uma resposta. Quer uma explicação, pois uma dor explicada é uma dor que dói menos (às vezes). Mas existem situações em que a pergunta surge sem esperança de resposta. E, mesmo que seja dada, de nada valeria.

“Por que morreu?”
“Por que nos deixou, partindo para o nunca mais?”
“Por que não passei?”

Na realidade não se espera uma resposta. O “por quê?” é um grito de protesto dirigido aos céus, um urro que nenhuma resposta explicará ou consolará. Grito que se grita diante da dor sem consolo. Em horas assim não há ateus. Se a cabeça diz que Deus não existe, o coração afirma que tem de existir.

Respostas teológicas surgem em ritmos divergentes, porém, apontando para uma mesma direção, numa tentativa de declaração: a explicação das razões baseadas no relacionamento entre o Deus onipotente (para alguns, transcendente, para outros, imanente, e ainda para alguns, tão um quanto o outro) e o homem, tão carente.

Diante de um “por quê?” a resposta divina é ansiada, porém, o que menos se espera, e é exatamente o que mais ilude e faz doer, é por uma resposta humana travestida como divina. É a postura de consciente ou não servir de porta-voz, ou intérprete do Criador; assumindo, assim, sacerdócio exclusivo. É a loucura de achar que se não houver uma resposta a todas as nossas perguntas, Deus perde seu posto e função de Soberano. É a tentativa ousada de domesticar a Deus, levando-o a concordar e a discordar com toda a vontade do abusado adestrador. Respostas assim causam mais sofrimento, além de orientar mal, guiando seu ouvinte a uma crença insana.

O Deus revelador em muitos momentos em sua Revelação ficou em silêncio, deixando o homem sem resposta para algumas indagações. E, mesmo, revelando somente aquilo que achou interessante, necessário. É mais fácil acreditar na limitação e ignorância do homem do que na impossibilidade do Criador. Isto nos ensina que há resposta para tudo, porém, que nem sempre deve ser revelada. Assim, há espaço para que alguns dos meus “por quê?” fiquem no ar, como desabafo, ou mesmo dúvida. Melhor assim, do que as respostas humanas travestidas de divinas!

De qualquer forma, eu estou aqui, Deus também, além de lá; e continua a me guiar. Respondendo ou não ao meu “por quê?”.

“Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu” (Salmo 42.11).