quarta-feira, 28 de maio de 2008

Sofrimento que traduz alegria (parte 2)

Filhos transformados em órfãos; cônjuges em viúvos; e pais assaltados pela indesejável surpresa de perderem seus filhos como que fora de tempo. São situações que traduzem “dor, sofrimento”. O que pensar e dizer aos que sofrem?

Há algumas consideráveis palavras a serem ditas: A mais comum é a lembrança de que a vida não termina aqui. Isto é, a morte não é o fim, mas o começo de uma nova realidade; não qualquer uma, mas a realidade ideal, em meio a um relacionamento perfeito com Deus. Esta consideração se apresenta atraente para aqueles que são do Senhor. E para os que não são (ou, não foram)? Geralmente, a lembrança desta realidade surge; porém, prevalece o silêncio como melhor maneira de não constranger, ou de não aumentar o sofrimento.

Há outra palavra comum que é aplicável a todos, e, por isso, repetida, que é a lembrança de que Deus é soberano. “Deus sabe o que faz!”, é a afirmação preferida do povo. Seja por absoluta, e reflexiva, convicção; ou por simplesmente não saber o que dizer; se repete a tese de que Deus é o responsável pela dor, e isto, baseado em seu total conhecimento, que não lhe permite errar; mas, lhe permite imprimir sofrimento.

Há ainda uma respeitável consideração teológica que nos empurra a uma reação positiva. A lembrança de que muito da dor que sofremos na perda se dá por egoísmo. Isto é, sabemos, como Paulo afirmou, que melhor é partir e estar com o Senhor do que ficar. O que traz a implicação de que aquele que partiu no Senhor, está numa situação infinitamente superior à que estaria se continuasse entre os que ficaram. Por que, então, sofremos? Por que lamentamos? Porque lidamos com a “nossa” perda. Lidamos com o “nosso” sentimento. Conseqüentemente, choramos por nós, e não pelo que partiu. Choramos pela dor que sentimos, pela ausência, pela saudade.

Isto reflete precisamente a alegria. Sim! Pois, quando sentimos tristeza pela saudade de alguém é sinal de que vivemos momentos que valeram a pena. Saboreamos momentos de satisfação, de regozijo; momentos que não gostaríamos de experimentar o término. Ninguém sente saudades de alguém que não conheceu. Ninguém sofre a perda de alguém indesejável. Sofremos pelas marcas deixadas por aqueles que trouxeram alegria.

Neste sentido, o sofrimento traduz alegria. É exatamente por isso que alguns têm medo de se relacionar com profundidade, pois temem sofrer a perda, ou a ferida decepcionante, causada por alguém que ama. A verdade é que quando lidamos com o sofrimento por alguém, é porque experimentamos (direta ou indiretamente) a alegria com esta pessoa. Isto, talvez, torne o sofrimento diferente aos nossos olhos. Uma boa maneira de lidar com o sofrimento é não vê-lo puramente, isto é, não considerar somente o sofrimento e sua dor. Devemos considerar a causa do sofrimento, a motivação da dor na perda. E isto nos conduzirá ao passado; nos guiará a momentos marcantemente satisfatórios. Se, pode aumentar a consideração da perda? Sim, mas pelo menos balanceará o sofrimento e a alegria. E confirmará que não há sofrimento de perda para casos e pessoas em que não houveram alegria.

Vale a pena, então, buscar a alegria com o próximo, já que corro o risco de sofrer? Este é o questionamento de alguns. Eu respondo com outro questionamento: Vale a pena não viver?