quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Ser grande

Nunca alguém tão grande se fez tão pequeno para tornar o pequeno grande. Esta é uma excelente afirmação acerca de Jesus Cristo. Mas, também, uma inteligente maneira de expressar aquilo que o próprio Senhor já ensinara: “Quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será servo de todos. Pois o próprio Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Marcos 10.43-45).

Todo ser humano enfrenta a luta em alguns momentos de sua vida, senão em toda a sua vida, de ser grande ou pequeno, ator ou coadjuvante, esplêndido ou simples, um ser exaltado ou humilde. E essa realidade encarnada em nossos membros, é vivenciada em nossos momentos como filho, ou irmão, pai, cônjuge, membro, pastor, aluno, professor, ...

Crescemos ouvindo por todos os lados que somente os fortes vencem (é a teoria da evolução). É comum a propaganda do endeusamento do eu: Priorizar os meus pensamentos; estabelecer a minha idéia; proteger as minhas emoções; potenciar o meu visual; enfim, tudo para tornar-nos potencialmente superiores, resistentes à opinião alheia; capaz de nos impor, independentemente do custo. É realmente difícil, quase impossível, não ser contagiado pelo gigantismo do eu.

Daí o sofrimento... Se alguém consegue “vencer”, seguindo tal política, sofre por não ter amigos à altura de seu ego, que o amem, independentemente de suas vitórias. Se, consegue vencer, provavelmente terá parceiros de negócio, ou sanguessugas para se alimentarem de suas conquistas, enquanto essas existirem. Se, for vitorioso sofrerá por não suportar ser deus. Não resistirá a pressão da lógica diária de sua inquietação, de sua insatisfação, de sua solidão. Sucumbirá diante da incoerência entre a vitória do marketing próprio e a derrota do ser humano, cheio de defeitos; repleto de sentimentos contidos que, como uma panela de pressão, vive preste a explodir.

É claro que precisamos crescer. E este é o objetivo de Deus ao agir em nós por meio de seu Espírito: nos aperfeiçoar. Porém, sem esquecermos de quem somos, pois somente assim saberemos do que precisamos. Somos homens. Seres limitados, cheios de imperfeições, inseguros por natureza. Seres que vêem a necessidade de diariamente vender a própria imagem, objetivando autenticação alheia, transformada em elogios, concordância e aplausos (exaustivos aplausos...).

Cristo ensinou: “Quem a si mesmo se exaltar será humilhado; e quem a si mesmo se humilhar será exaltado” (Marcos 23.12). Estanho aos nossos ouvidos essa afirmação, pois não combina com nada que ouvimos, lemos e vemos no mundo em que vivemos. Mas, interessante, quando observamos isso se tornar realidade em nossa vida, ou na vida de outros.

Em minha formação teológica, aprendi de muitos mestres. Cada um com seu estilo, conteúdo e carisma. Mas, um dos que mais marcou foi aquele que sempre se mostrou humilde. Não tinha receio de revelar sua limitação, e de reconhecer seus erros. Interessante que de todos os mestres, foi o que mais cresceu durante o período de nossa formação. Além disso, foi marcante não somente para mim, como para toda a turma. Recentemente revi um casal de nossa turma, e conversando percebi que ambos tinham a mesma admiração, e a mesma marca em suas vidas daquele professor. O humilde será exaltado.

Essa atitude revela amor. Amor em dar, em doar, em compartilhar, em aprender e ensinar ao mesmo tempo. Amor em ser gente, revelando dependência do Senhor. Amor em mostrar o caminho para vivermos uma vida mais prazerosa, mais livre e caridosa.

Devemos, em Cristo, assumir o que somos e o que precisamos; pois somente assim seremos livres para viver autenticamente. Como disse Cristo: “O Pai procura verdadeiros adoradores que o adorem em espírito e em verdade” (João 4.23-24). É impossível esta espiritualidade brotar em verdade sem que o nosso eu seja livre no Senhor. Enquanto insistirmos em mascarar o nosso eu, assumindo a coordenação de nossos relacionamentos, não experimentaremos o viver de Cristo em nós, como novas criaturas.

Ser pequeno diante do Senhor, doando-se ao próximo, vale a pena. Talvez não conquiste o mundo”, mas certamente conquistará a verdadeira experiência de se viver com Deus.