sexta-feira, 20 de outubro de 2006

A Diferença

“Vejam uma gata. Que limpa criatura é! É interessante vê-la lavar o próprio corpo com a língua e as patas. Você, porventura, já viu uma porca fazer o mesmo? Nunca viu nem verá, pois isso é contrário à sua natureza. Ela prefere focinhar na lama. Ensine uma porca a lavar-se e a limpar-se como a gata - tarefa inútil. Você poderá lavar a força aquela porca; ela, porém, voltará para a lama e sairá dali tão imunda como antes. O único modo pelo qual você conseguiria fazer com que uma porca se lavasse voluntariamente seria transformando-a numa gata. Suponha que tal transformação se realize; então, aquilo que parecia difícil ou impossível torna-se fácil e espontâneo. É o que Cristo fez e faz conosco.”

“Se alguém está em Cristo é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas”. Faz sentido para você? O apóstolo Paulo apresenta a principal razão de sua insistência com os crentes em Corinto: O amor de Cristo, revelado por sua obra (1 Co. 5.11-17).

Ele admite uma certa “loucura” (v. 13), perder a mente, ficar fora de si, perder o bom senso. E quando lemos todos os escritos de Paulo, inclusive sua carta aos coríntios, entendemos o que seria loucura para os seus críticos: sua conversão. Ele enlouqueceu para os que não entendem a mensagem da cruz, porém, mantém, conserva o juízo para aqueles que também foram alcançados pelo Senhor. Para estes, sua vida e mensagem fazem sentido.

Cristo, como “cabeça da igreja”, possui um projeto bem definido, bem delineado, com começo, meio e fim estabelecidos (vv. 14-15). E neste projeto não conhecemos a ninguém segundo a carne (v. 16). O que pensamos dos outros, como lidamos com os outros, como reagimos aos outros, ou ao que os outros fazem, não deve ser da maneira como todos fazem, pois não somos mais como todos, somos diferentes, porque temos a diferença que é Cristo (este é um excelente momento para fugirmos do teatro, deixando a máscara de lado, a fim de analisar o tamanho de “nossa diferença”).

Almejamos comprovar que Deus ama. Mas como esse amor é percebido? Através de nosso amor, através de nossa ação. Não há real dicotomia entre o discurso e a prática, pois a conseqüência trágica seria a dissolução do conteúdo. Se, temos a diferença que é Cristo, obrigatoriamente nos tornamos diferentes, como Ele (v. 17).

“Uso sapatos pelo conforto, não pela moda. Há alguns anos tive um par de sapatos pretos que usei quase diariamente por um ano. Por fim, começaram a aparecer buracos na sola, mas eram tão confortáveis aqueles sapatos que continuei a usá-los. Não podia cruzar as pernas quando ficava sentado em uma plataforma para que as pessoas da congregação não vissem os buracos. Sabia que precisava comprar sapatos novos, mas ficava adiando. Então, um dia choveu, choveu muito. Depois de quatro dias de meias ensopadas, senti-me motivado a mudar de atitude e comprar sapatos novos. O primeiro passo na mudança geralmente é o desconforto!”

O primeiro passo na mudança de nosso caráter, é o desconforto com nosso velho caráter. O desconforto com nosso pecado. Cristo nos dá a beleza de sua comunhão, e nos transforma paulatinamente à sua semelhança. E assim, temos o privilégio de participar de sua comunhão: comunhão com Ele, através da comunhão com aqueles que são dEle. Somos diferentes porque temos Cristo, a diferença!

quarta-feira, 18 de outubro de 2006

Expectativa política

Apesar da costumeira desconfiança e das comprovadas maracutaias que nos desmotivam a participação política, somos chamados a responsabilidade, a cidadania, produzindo o cuidado divino nas exortações para com as autoridades, os governos, afinal, estes dizem respeito à nossa vida diária: moradia, alimentação, estudos, saúde, religiosidade, esportes, liberdade de expressão, segurança, emprego, ... Consciente ou não a política nos move, nos envolve.

Isto fica mais claro em época de eleição, quando a população é impactada pelas discussões, e gostos, que, às vezes, mais se identificam com torcidas de futebol, prevalecendo a paixão, o gosto particular desnudo de razão, mas repleto de sentimentos.

Como cristãos a responsabilidade é iniciada pela necessidade de consciência política, o que biblicamente se encaixa no famoso, mas difícil, discernimento. Discernimento em escolher bem, mediante acurada investigação e análise do candidato e de seu programa. Discernimento na cobrança da conduta do candidato “eleito”, conforme programa pré-estabelecido.

Infelizmente, a igreja tem-se mostrado inoperante quanto a esta tarefa em fases de sua história, tornando-se medíocre em suas críticas, assim como a maior parte da sociedade que participa efetivamente da destruição do patrimônio público e privado, que não coopera com a manutenção da cidade, que não contribui com idéias e trabalho, mas que diante da conseqüência prejudicial de seu próprio descaso, irremediavelmente culpa o “governo” por toda catástrofe existente.

Diferentemente destes, a igreja, que tem a responsabilidade de ser “sal na terra” e “luz no mundo” tem de assumir sua tarefa que se apresenta de forma implícita e explícita. Implicitamente, honrar, obedecer, cumprir a lei, rejeitando o jeitinho brasileiro que em nada se alinha ao padrão de santidade de seu Senhor.

“Sujeitai-vos a toda instituição humana por causa do Senhor, quer seja ao rei, como soberano, quer às autoridades, como enviadas por ele [...] Porque assim é a vontade de Deus, que, pela prática do bem, façais emudecer a ignorância dos insensatos; como livres que sois, não usando, todavia, a liberdade por pretexto da malícia, mas vivendo como servos de Deus. Tratai todos com honra, amai os irmãos, temei a Deus, honrai o rei.”

“Lembra-lhes que se sujeitem aos que governam, às autoridades; sejam obedientes, estejam prontos para toda boa obra, não difamem a ninguém; nem sejam altercadores, mas cordatos.”

Ao contrário de se entregar à tentação do falar mal, do difamar, a igreja deve interceder por aqueles que são autoridade, por decisão do Senhor.

“Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade.”

É impressionante como o “povo de Deus” encontra enorme facilidade e disposição de passar e-mail’s e de conversar difamando e criticando as autoridades governamentais, mas, em contrapartida encontra teimosa dificuldade em orar, interceder em favor destes. Parece que a igreja sofre de amnésia quanto a esta tarefa.

Explicitamente, a tarefa da igreja é a de proclamar a verdade, o evangelho, que traz a mensagem de Deus quanto a salvação e a vida (o que inclui, em muito, a política). O evangelho é o poder de Deus para salvação. É a lei de Deus para a mudança de vida, que envolve santificação. É a proclamação da ética divina que realça o amor, a imparcialidade, desnudando a mentira, o orgulho, a inveja, a dissensão.

Mediante este proceder a igreja tende a uma expectativa realista. Fico surpreso com o cristão (principalmente o líder) que se surpreende com a corrupção, a conduta pecaminosa entre os políticos, deixando-se desanimar, abater. Qual a surpresa? O que esperar de pessoas que não tem o Senhor como seu Deus? Ele já afirmara que este mundo jaz no maligno e que o homem natural não entende as coisas espirituais; então, o que esperar, perfeição, ética impecável? O cristão que assim se apresenta ou não conhece as Escrituras devidamente ou não leva à sério as afirmações de Deus. É exatamente por isso que somos chamados a fazer a diferença no mundo. Assim, nossa expectativa não deve ser a de perfeição por parte destes, algo impossível até à nós, enquanto possuidores desta natureza pecaminosa.

Neste aspecto o pastor é figura essencial. Em época de eleição (fase atual), o pastor tem a responsabilidade de ensinar ao povo o exposto até aqui por meio de sua conduta, de seu exemplo, e de suas palavras. Mas deve também ensinar o povo a votar, e isto inclui o entendimento de que a pessoa está escolhendo um líder político não um líder religioso. Esta idéia de que crente vota em crente surgiu da mente de quem espera alcançar votos, muitos votos. Escolhemos pessoas que farão e que executarão leis. E esta escolha considera que este líder tem de ser avaliado por seu caráter (o aceitável, levando-se em conta a realidade humana), isto inclui a família. Tem de ser avaliado por sua visão, por suas opções de governabilidade, e também, avaliado por seu trabalho, seu currículo.

O pastor cumpre com seu papel ajudando as pessoas a escolherem bem seus candidatos, através dos princípios bíblicos e éticos existentes. Não é tarefa do pastor escolher os candidatos para as pessoas, mas sim instrui-las à assumirem, com maturidade, sua responsabilidade, sendo cidadãos exemplares, mesmo que estejamos neste mundo, não sendo todavia literalmente dele.
Faço a minha parte para com a igreja, enxergando a realidade da ação de Deus transformando-a, mas também enxergando a realidade de suas imperfeições. Afinal faço parte dela.

Petulante


Insolente este pequeno
Homem teimoso em ser grande
De espantoso atrevimento
Empaca, não indo adiante

Desavergonhado piazote
Letrado na arte do pecar
Acostumou-se ao bote
Não mais chorando ao errar

Imodesta criatura
Plenamente imatura

Ousado no reclamar
Revela incrível cegueira
Ao Criador querendo enfrentar
A criatura, uma toupeira


Pr. Wagner Amaral
19/09/2006
Sobre a vontade humana de ser Deus.