quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Maldita influência

Números 13.25ss: “Não poderemos subir contra aquele povo, porque é mais forte do que nós”.

Toda influência é influenciada por uma reação a algo superior.

Um pouco mais de dois anos havia se passado, desde a saída do Egito. A saída, os mandamentos, as regras, as estratégias de acampamento, de guerra. Tudo já encaminhado. Chegam finalmente às portas da terra prometida, e doze homens são enviados por Moisés a espiar. O povo, assim como sua liderança, na expectativa de boas notícias; afinal, foram retirados da escravidão do Egito para esse grande momento. Todos cansados da rotina itinerante, porém, alegremente tensos; afinal seriam um povo respeitado, e assim, o futuro de suas famílias estaria garantido. No entanto, com o retorno dos espias a decepção! E, então, percebemos a força da influência; e como esta pode ser positiva ou negativa, boa ou má. O texto revela esta força em quatro etapas.

Primeiro, a influência (13.27-29, 31-33). Normalmente todo discurso negativo segue uma mesma linha. Primeiro, uma breve palavra positiva: “verdadeiramente mana leite e mel, este é o fruto dela” (27). Para então surgir uma prolongada palavra negativa: “O povo, porém, é poderoso, verdadeiras fortalezas, inimigos terríveis e bem estabelecidos” (28).

O discurso negativo se tornou extenso, forte e conclusivo (31). E para atingirem seu objetivo na influência sobre o povo, começaram a infamar a terra. Isto é, iniciaram uma campanha de difamação, a fim de criarem repulsa, aversão a terra (32). O objetivo era o de enfatizar seu ponto de vista, levando o povo a segui-los (33).

Em segundo lugar, a reação à influência (14.1-3, 10). Primeiro a ira, a raiva, a indignação (1a). Depois, o choro (1b). E, finalmente, a murmuração (2). E com a murmuração a sandice, a insensatez. Um povo que viu e que experimentou o poder de Deus se deixou levar pela má influência. Não está em questão o esquecimento ou o ignorar a existência e a presença do Senhor (3). Eles se lembravam do Senhor, mas foram incapazes de associar Sua realidade à necessidade do momento. E, o pior, é que a raiva, o choro e a murmuração que traz consigo a sandice é normalmente recheada com agressividade (10).

Então se percebe a motivação (14.9). Um coração medroso e rebelde. Medroso para com as dificuldades que batem à porta, chegando mesmo à covardia; mas corajoso o suficiente para se rebelar contra o Senhor. Eu diria, em termos pastorais, um coração desejoso de seguir aquilo que vê, ouve e toca; porém, preguiçoso em exercer fé.

Pronto para acreditar no que ouve na TV; no que lê em livros diversos de autores sequer conhecidos ou qualificáveis; no que ouve de toda e qualquer boca ansiosa para falar, para contar algo, mesmo que não seja exatamente a verdade; no que sente, mesmo sabendo que os sentimentos nos traem, ora revelando simpatia ora antipatia, ora conduzindo a expressões como “te amo” e ora conduzindo ao silêncio, à indiferença.

Mas receoso em acreditar no Senhor. Preguiçoso em ler e em acreditar nas Escrituras; mas pronto para plantar comparações que dificultam a aplicação dos princípios de Deus à vida. Preguiçoso em orar, em crer que Deus tem prazer em ouvir a oração sincera, e prazer maior em atendê-la, mesmo que seja com um “não” carinhosamente confortante. Preguiçoso em ser coerente, em ser responsável, em ser trabalhador. Indisposto a servir a família, a igreja, ao irmão; mas disposto a ser servido por todos, principalmente por Deus.

É interessante como o Senhor descreve isto com maestria através de Jeremias: Maldito o homem que é influenciado pelo próprio homem. Bendito o homem que é influenciado pelo Senhor. E de repente Ele afirma: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?”. O problema está na influência de nosso coração.

Finalmente, temos a conseqüência (14.22-23). Peregrinaram pelo deserto até a morte. Deus tornou a eles aquilo que acreditaram: não herdaram a terra por não acreditarem ser possível. É incrível como o Senhor está sempre a ensinar, provando seu poder. Ironicamente levou o povo a perambular quarenta anos pelo deserto. Cada ano correspondendo a um dia de trabalho dos espias. Além disso, prometeu dar a terra como herança a seus filhos. Os mesmos que os pais disseram que o Senhor mataria se entrassem na terra (30-35).

Em algumas poucas oportunidades disse a jovens (e em especial aos nossos jovens) que muitos passam pela vida sem deixar marcas, até mesmo sem viver. A tendência natural é que aquele que “passa” pela adolescência e juventude continuará a passar até o fim de sua vida, a não ser que Deus aja misericordiosamente. É influenciado a não influenciar, ou a influenciar negativamente, revelando um coração preguiçoso e incrédulo.

Seguindo esta tendência natural, a palavra entra e sai e nada acontece positivamente, nada que revele vida. Por isso temos investido nas crianças e nos adolescentes para que vivam, e ao viverem façam a diferença.

“Ensina a criança no caminho em que deve andar, e ainda quando for velho não se desviará dele” (Provérbios 22.6). Investimos, influenciando, para que vivam com qualidade, marcando a vida daqueles com quem conviver.

Investimos para que amem ao Senhor, e confiem nele. Rejeitando a influência negativa que os rodeiam, a começar de dentro de casa.

Investimos para que a conseqüência de suas vidas não seja a morte, a começar por um viver terreno miserável. Mas, sim, para que tenham vida expressada na alegria, na bondade, na perseverança, na conquista daquilo que agrada a Deus.