quinta-feira, 28 de maio de 2009

O plano de Deus para nos aperfeiçoar

Tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações (Tiago 1.2-4).


Poucas seriam as afirmações mais insanas do que esta! Regozijo, satisfação, júbilo, por passar por situações difíceis, desagradáveis. Situações que todo e qualquer homem de regular juízo jamais buscaria, ou aceitaria como normais. Dor, sofrimento, amargura, depressão, enfim, a sensação de derrota como gosto azedo na boca; e como peso sobre os ombros. Uma sensação estranha de desânimo. Uma indisposição que leva à morte, em todos os níveis da vida: espiritual, moral, emocional, social, etc. Por que, e como, me alegrar com tais sensações?


Talvez, o mais incrível seja a afirmação de que este é o processo que Deus planejou para aperfeiçoar o homem. E é exatamente esta a resposta que Tiago daria à pergunta anterior. Em seu texto, ele faz três afirmações:


A primeira, é que as provações produzem firmeza e constância (2-3).


“tende por motivo de toda alegria”. A ordem é categórica e exorta a uma decisão de encarar as provações com uma atitude alegre; por causa dos benefícios trazidos.


“o passardes por várias provações”. A palavra usada por Tiago indica qualquer espécie de provação (peirasmos). Toda a forma de acontecimento desagradável seja como conseqüência de suas ações ou mesmo de algo externo que lhe machuca. Temos mais a indicação de vários tipos de provações do que de quantidade.


“sabendo que a provação da fé, confirmada, produz perseverança”. A razão pela qual devemos reagir com alegria, é que elas são uma prova, através da qual Deus opera para aperfeiçoar a nossa fé. A palavra provação usada por Tiago (dokimion) significa testar, normalmente usada para se referir ao processo pelo qual prata e ouro são refinados pelo fogo. Assim, as provas testam a validade de nossa sinceridade, de nossa vitalidade. Mostram a qualidade de nossa fé, se é pura, ou se há nela elementos de corrupção, buscando purificá-la. Desta forma, a idéia não é a de que as provações determinam se temos fé ou não. Mas sim, visam fortalecer a fé que já existe.


"produz perseverança”. Este é o objetivo imediato do teste. Não há qualquer idéia de simplesmente suportar tudo com um sorriso no rosto, sem queixumes, embora isso também seja uma virtude. O foco principal é a constância. É a força de caráter que nos ajuda a realizar nossos propósitos espirituais.


É interessante observar que a expressão: “a provação da vossa fé, uma vez confirmada”, pode simplesmente ser traduzida como: “sabendo que a aprovação da vossa fé produz perseverança”. Perseverança, constância, é o resultado na vida dos vitoriosos. A forma comum é dizer: ele venceu porque foi perseverante. Tiago diria: ele perseverou porque venceu, porque foi aprovado em meio às provas que lhe sobreveio no dia-a-dia. E isto nos leva ao próximo ponto, que esclarece o porquê desta obra bem sucedida.


A segunda, é que as provações indicam a presença de Deus em nossa vida.


Ele faz doer. Leva-nos a sofrer com nossas próprias ações ou reações, devido às imperfeições. É somente sofrendo, sendo marcado na carne e na alma que muitos aprendem.


É difícil. Dói mesmo, mas Deus está lá, presente. Dói perder um ente querido. Principalmente quando não se é esperado. Dói, mas Deus está lá. Dói sofrer humilhação diante de tantas pessoas, expondo o nosso orgulho, o nosso erro ao insistir com uma educação errada de nossos filhos. Dói, mas Deus está lá. Dói casar e descobrir que o cônjuge não é aquilo que aparentou ser. Dói demais descobrir que o cônjuge não tem vontade e disposição em cumprir com o que prometeu, não sendo verdadeiro marido, ou verdadeira esposa. Dói viver isso no dia-a-dia, e saber que tem de lidar com esta realidade indesejável. E na maioria das vezes em silêncio. Dói, mas Deus está lá. Dói pedir tanto por um emprego, e quando este chega saber que terá de deixá-lo, ou pelo menos, se arriscar a perdê-lo, por exigir de você algo que não é aceitável a um discípulo do Senhor. Dói, mas Deus continua lá. Dói lutar e lutar para resolver problemas de relacionamento, chegando ao estresse emocional, ao limite físico, e descobrir que por mais que se faça nada parece indicar solução. Dói, mas o Senhor está lá. Dói sentir a facada da traição daqueles que amamos, daqueles que temos como especiais; descobrindo que talvez não somos tão importantes como achávamos para tais pessoas. Dói demais, mas Deus está lá. Dói descobrir que o filho que cuidamos com tanto carinho enquanto pequeno e dependente, virou as costas para nós, quando chegou à maioridade. Não devolvendo o amor que recebeu durante toda a sua formação. Dói muito tal coisa, mas Deus continua presente. Dói perder tudo o que se tinha, e descobrir que toda a segurança aparente, e planos futuros caíram por terra; trazendo sofrimento, insegurança e vergonha. Dói, mas Deus está lá.


Deus continua lá, presente, executando seu plano em sua alma. Deus continua a agir, amorosamente, como um pai, buscando promover sua melhoria, para que, aperfeiçoando seu caráter, você como filho se pareça mais com ele.


Normalmente temos o questionamento: Não poderia ser de outra forma? Tiago, provavelmente, responderia com outra pergunta: Para moldar nossa vontade e caráter? A resposta é: Não. De outra forma Deus faria um milagre impessoal: Faria-nos dormir, e tiraria e colocaria algo, e então acordaríamos mudados. Seria impessoal, pois isto não implicaria em uma mudança consciente, sentida e aprendida; seria mais parecido com a mudança de alguma peça em uma máquina. Para nos direcionar a mudança, fazendo-nos desejar, e levando-nos a mudar, somente através da experiência vivida por meio das provações. Pois, estas, jamais esquecemos, estas nos marcam por toda a vida.


A terceira, e última, afirmação é que as provações formam o caminho para a perfeição (4).


Tiago mostra que a perseverança conduz à perfeita obra. “a perseverança deve ter ação completa”. Ação completa significa, literalmente, uma obra perfeita. Tiago revelará em sua carta que o processo inteiro é uma operação divina, por isso, possível (1.16-18).


A perseverança, resultado da aprovação do crente em meio às provas, deve chegar até o seu destino: a perfeição. E esta perfeição se resume em possuir o caráter de Cristo. “para que sejais perfeitos e íntegros”. No original a palavra: íntegros é uma junção de inteiro e partilha. O que indica uma partilha inteira da perfeição, olhando o todo da pessoa. A idéia é a de que sejamos perfeitos, completos, iguais a Cristo, inteiramente, olhando o todo de cada pessoa.


E ele completa, dizendo: “em nada deficientes”. Sem imperfeições nas qualidades morais. Essa é a idéia central de Tiago em sua carta: como trilhar pela vida, passando pelas provas, a fim de possuir a sabedoria de Deus, e, sendo igual ao seu filho, ser perfeito em tudo, em nada deficiente.


"Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho para sempre”.Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo, fica do mesmo jeito a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosa. Só que elas não percebem e acham que seu jeito de ser é o melhor jeito de ser. Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida (Deus) nos lança numa situação que nunca imaginamos: a dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, o pai, a mãe, perder o emprego ou ficar pobre. Pode ser fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão ou sofrimento, cujas causas ignoramos.


Há sempre o recurso do remédio: apagar o fogo! Sem fogo o sofrimento diminui. Mas, com isso, a possibilidade da grande transformação também.


Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro cada vez mais quente, pensa que sua hora chegou: vai morrer. Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar um destino diferente para si. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada para ela. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande transformação acontece: Ploc! E ela aparece como outra coisa completamente diferente, algo que ela mesma nunca havia sonhado.


Bom, mas ainda temos o piruá, que é o milho de pipoca que se recusa a estourar. São como aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem. A presunção e o medo são a dura casca do milho que não estoura. No entanto, o destino delas é triste, já que ficarão duras, a vida inteira. Não se transformarão na flor branca, macia e nutritiva. Não darão alegria para ninguém, nem para si mesmas.


Esta perfeição, possível através da perseverança, possível ao ser aprovado nas provações, conduz o homem à felicidade.