Quando olhamos para as Escrituras observamos um Deus bem mais voltado para seus relacionamentos do que para suas “aulas” de teologia. Ao contrário do que pensam e determinam alguns, o entendimento teológico é conseqüência do relacionamento de Deus com sua criação. Não é o entendimento teológico que determina o que Deus é, sente e faz; ao contrário, este entendimento é a tentativa humana de moldurar a Deus; não para limitá-lo, o que em muito acontece, mas para torná-lo acessível à mente limitada do homem.
Teologizar é tarefa árdua, pois lida com algumas limitações, que geram tendências e vícios. As limitações existem pela simples, porém profunda, compreensão de que a limitadíssima criatura precisa pensar e compreender o ilimitado Criador. É tarefa desproporcional para o mortal pensar no Imortal, colocar em moldes finitos a eternidade. O tempo e, principalmente, a ausência deste, limita a abrangência e as considerações, levando o discurso a ser em muito subjetivo, isto é, sentido, porém impossível de ser descrito absolutamente.
As tendências, por sua vez, existem no conformar o Criador à grade particular de cada pessoa, de cada movimento (ou linha) teológico. Cada movimento estabelece seus “sim” e “não”, seus “prós” e “contra” no entendimento de Deus e de sua vontade, conforme a herança de sua formação, enquadrando o Criador dentro de sua cosmovisão. Muitos se acomodam a esta realidade por perceber que todos são indiscutivelmente passíveis de tal tendência. Muitos, sequer conseguem teologizar, pois gastam todo seu tempo e energia no difícil exercício da busca de uma maior honestidade hermenêutica.
Porém, a limitação observada nesta tendência torna-se um vício quando o “pesquisador” assume o lugar do “pesquisado”, fazendo do laboratório toda a expressão da realidade do mundo pesquisado. Resumindo, quando o teólogo torna-se “deus”, invertendo assim a ordem revelada: ao invés de sermos criados à imagem e semelhança do Criador, o pesquisador torna Deus à imagem e semelhança da criatura, o homem. Isto se dá quando o teólogo estabelece o que Deus é, sente e faz; dando às suas próprias observações (interpretações) um valor absoluto com status divino. Esta tendência de fazer Deus gostar e falar aquilo que gostamos, ou de não gostar daquilo que não gostamos, engaiolando o Criador como um pássaro que come e bebe o que damos; empobrece a arte da teologia, assim como seu resultado.
Assim, na arte de teologizar, um dos primeiros exercícios do bom pesquisador é o de questionar suas “descobertas”: é o Criador ou sou eu quem estabelece isso? Para muitos, o exercício não passa deste ponto; porém, para os que o ultrapassa, conhecer, entender e viver o Senhor torna-se a mais bela e responsável tarefa a ser experimentada. Bela pela expressão possível do Senhor e pela perplexidade das descobertas; responsável pela seriedade no viver e comunicar aquilo que, por graça, tenha chegado até nós. Com estas considerações voltemos ao início do texto: Por que temos de sofrer? Se permitido, continuaremos no próximo texto a ser postado.