quinta-feira, 13 de março de 2008

Adoração "musical"


Criar ambiente e fixar conteúdo. Independentemente das diversificadas opiniões, estes objetivos têm prevalecido na história da música, especialmente a partir do ano 1500; deixando para trás a “música gótica”, em que compor e interpretar era tarefa de todo músico, através de improvisações. Desde que a tarefa de compor e de interpretar se tornou distinta, os objetivos de criar ambiente e fixar conteúdo passaram a conviver ora em acirrada disputa ora em harmoniosa e bela parceria. Evidentemente tal instabilidade se deu mais pela interpretação e definição de cada músico do que pelas possibilidades da própria arte musical.

Quando transportamos estes objetivos para a música na igreja, pensando, exclusivamente, em adoração; devemos considerar que tipo de ambiente é desejável? Uma resposta rápida e concisa seria: Ambiente de adoração. Este, seria, provavelmente, melhor compreendido como ambiente de louvor e de gratidão que nos leve a pensar em Deus; ambiente de alegria que nos ligue a Ele; ambiente de reflexão que nos ligue a Sua Palavra; ambiente de dedicação que nos leve ou ao arrependimento, ou ao desejo de servir; e ambiente de amor que produza comunhão entre os que são do Senhor.

Diante deste quadro a sucessiva pergunta seria: Que tipo de música cria estes ambientes? Novamente, uma resposta simplória (normalmente dada) seria: Música que traduza adoração. Porém, a pergunta persiste: que tipo de música cria os ambientes desejados para a adoração?

Quanto à letra? Uma breve resposta seria a de que seu conteúdo deve concordar com a Revelação de Deus (Salmo 19.7ss). Uma letra que apresente, musicalmente, a perfeição que restaura a alma; que dá sabedoria; que alegra o coração; que conduza ao discernimento e a irrepreensibilidade. Que seja agradável ao Senhor: “As palavras dos meus lábios e o meditar do meu coração sejam agradáveis na tua presença, Senhor, rocha minha e redentor meu!” (v.14).

Quanto à melodia? Que seja agradável, coerente, e significativa (Salmo 137.1-4). [Melodia é uma sucessão dos sons musicais combinados. É a
voz principal, que dá sentido a uma composição musical. Encontra apoio na harmonia, que é a execução de sons simultâneos dos demais instrumentos ou vozes quando se trata de música coral
] Os israelitas questionavam a possibilidade de melodiar as canções de adoração em ambiente conflitante: “Como haveríamos de entoar o canto do Senhor em terra estranha?” (v.4). A melodia deve convergir o ambiente de adoração a seu conteúdo, traduzindo uma coerência significativa ao adorador e ao Adorado.

Quanto à harmonia? O óbvio! Que seja harmônica, isto é, perceptível, ordeira, e bela (Salmo 19.1-6). [Harmonia é o campo que estuda as relações de encadeamento dos sons simultâneos (
acordes). A harmonia é um conceito clássico que se relaciona às idéias de beleza, proporção e ordem
] A música na adoração deve traduzir e transmitir os atributos do Senhor, revelando Sua beleza, Seu controle e sensibilidade; à semelhança da descrição de Davi no Salmo 19, quando mostra que a criação proclama a glória de Deus, através destas características: “por toda a terra se faz ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo” (v.4).

Quanto ao ritmo? Que estimule os adoradores a uma reação que propicie o ambiente esperado (Salmo 150). [Ritmo designa aquilo que flui, que se move, movimento regulado. O ritmo está inserido em tudo na nossa vida. Ritmo é o
tempo que demora a repetir-se um qualquer fenômeno repetitivo, mas a palavra é normalmente usada para falar do ritmo quando associado à música, à dança, ou a parte da poesia, onde designa a variação (explícita ou implícita) da duração de sons
com o tempo] Observamos tipos de ambiente distintos na adoração, como ambiente de alegria ou de contrição. Assim como na comunicação (inclusive na arte da homilia) usamos ritmos distintos no falar e no gesticular para expressar da melhor maneira possível a mensagem de Deus, atraindo a atenção do ouvinte, conduzindo-o a uma reflexão, aceitação e prática do exposto; assim, também, almejamos com o ritmo na música. O Salmo 150 nos direciona a variados ritmos, a partir dos instrumentos alistados: "Louvai-o ao som da trombeta; saltério e harpa; adufes e danças; instrumentos de cordas e flautas; címbalos sonoros; címbalos retumbantes".
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Enfim, música que traduza adoração. Mantendo o foco no Adorado, mas, estimulando o adorador a uma adoração verdadeiramente espiritual: “Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as cousas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém.” (Romanos 11.36).