sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

O Abandono que gera vida

Cristo é sinônimo de vida. O incrível é a fórmula usada para se chegar até esta vida. Quando consideramos os evangelhos, nos deparamos com algo aparentemente contraditório; porém, real e fundamental para a obtenção da vida: o abandono.

Paulo escreveu aos filipenses (2.5-11) relembrando o abandono do Senhor de sua condição gloriosa para assumir a forma de servo, em humilhação, sendo obediente até a morte. O interessante no texto não é a informação acerca de Cristo, pois a temos em outros textos; mas sim, a expectativa do apóstolo para com seus leitores: “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus”. O termo usado por Paulo exorta seus leitores a ter a mesma disposição mental que seu Senhor. Uma disposição de altruísmo, de interesse pelos outros, de servir, mesmo que incluísse a possibilidade de perder a própria vida. A aplicação é direta: Devemos pensar, sentir, desejar e viver como Cristo, sabendo que isto implica em abandonar nossas particulares expectativas sobre a vida.

Para vir nestas condições, Cristo teve de abandonar sua condição naturalmente gloriosa. Além disso, durante toda sua vida, vemos um abandonar contínuo, e sereno, de prazeres particulares. Em todo tempo disse: “Porque eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, e sim a vontade daquele que me enviou” (João 6.38). Não que sua vontade necessariamente fosse outra, pensando em prazeres da vida. Mas, foi cuidadoso em especificar que seu alvo era o de viver a vontade do Pai.

Abandonou a própria vida, doando-a em favor de seu povo. Aliás, esta foi a promessa dada a seus pais: “Ela dará a luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles” (Mateus 1.21). E, viveu o mais trágico momento da história humana, quando, na cruz, sentiu o abandono do Pai: “Eloí, Eloí, lama sabactâni? Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?” (Marcos 15.34).

Provavelmente, esta é a raiz de sua exortação aos seus discípulos: “Se alguém quiser vir a mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me. Quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; quem perder a vida por minha causa, esse a salvará” (Lucas 9.23-24). Voltando à consideração de Paulo, isto é ter o mesmo sentimento de Cristo Jesus. Isto é viver como ele.

É impossível seguir a Jesus sem ser tirado do lugar que mais desejamos. Esta caminhada longe do nosso ninho para lugares desconhecidos é que nos converte. A conversão não é a simples aceitação de uma fórmula teológica para a eterna salvação. É muito mais, é a descoberta da dolorosa, bela e operante criatividade de Deus durante o nosso viver. Foi essa atividade conversora de Deus que tornou um hebreu fugitivo no libertador de Israel; um menino pastor num rei; pescadores em pescadores de homens; um judeu perseguidor da igreja no apóstolo dos gentios. Em toda ilustração bíblica de conversão, há uma missão atrelada. Ninguém é convertido para benefícios exclusivamente pessoais. Esta pode ser a razão porque temos de perder nossa vida a fim de achá-la. O propósito da conversão na Bíblia não é a nossa auto-realização, mas a missão de Cristo.

As pessoas pensam que sua doença ou seu divórcio ou sua mágoa significam o fim de suas vidas. Elas estão certas! A vida como elas conheciam já era. Em seu lugar elas ganharam não apenas uma nova vida, mas uma nova proposta para a vida. É claro que diante desta proposta, existe alguma aversão, mesmo nos círculos evangélicos, quando se fala em conversão. E por que isto acontece?

Porque alguns, talvez, ficaram embaraçados com algumas mensagens que parecem derreter qualquer possibilidade da verdadeira graça e amor.
Porque outros, possivelmente, conviveram com um povo convertido o tempo suficiente para perceber que não há nada mais realmente diferente para saber sobre eles.

Porque alguns cresceram cansados de ver evangelistas que só ficam contando conversões, mas têm muito pouco para dizer sobre os que estão famintos, sem lar, doentes, nus ou na prisão. Há muito mais no evangelho do que conseguir pessoas para assinar cartões de decisão.

Mas creio, que a melhor razão para alguns se intimidarem quando falamos de conversão é que ela mudará tudo. Confrontados com o abandono, podemos voltar nosso coração para as coisas que perdemos ou voltar em direção à esperança de que Jesus Cristo é de fato nosso Salvador (Filipenses 3.7-12).

Cristo, veio, não para ser eternamente aquela criança de um nascimento diferente, pobre, rejeitada pelos poderosos e amada pelos necessitados. A criança cresceu, tornou-se homem, e assumiu o ministério de nos salvar, levando-nos a assumir uma nova vida, uma nova realidade; que implica em abandonar a nós mesmos; isto é, abandonar a vida segundo nossa perspectiva particular.

Assim, Cristo é vida para quem perde a sua própria vida. Para quem insiste em mantê-la sobre domínio de seu coração, Cristo é um nome bonito e bondoso, um exemplo de que Deus, de alguma maneira não se esqueceu de nós. Mas, somente isso. Para experimentar a vida abundante do Senhor em Cristo, é preciso abdicar da vida de nossos sonhos.

Você está pronto?

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Ira atrevida

Intrometida, chega sem avisar
Transformando o dia em pesar
Cheia de si, acusa sempre o vizinho
Como o sujeito do descaminho

Déspota dos sentimentos
Maltrata quem lhe acolhe
Tornando a vida um lamento
Para quem dela colhe

Inimiga da mansidão
A ira apodrece o coração

Dispensá-la é ato inteligente
De quem investe eternamente
Pois acúmulo de maldade
Transforma-se em infelicidade


Pr. Wagner Amaral.
28/11/2008

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Refletindo Cristo, através da singularidade em ser mulher

É comum ouvir, ou ler, pessoas afirmando que a mulher não deve assumir funções, ou postos importantes na igreja por ser mais inclinada ao pecado. Há poucas coisas mais absurdas do que esta nas Escrituras. Em 1 Timóteo 2, Paulo amarra a culpa pelo pecado original na pessoa de Adão, o homem, o ser masculino.

Costumo representar isto através da experiência pastoral em nossas igrejas. Há normalmente mais homem ou mulher nas igrejas? Que ministério funciona em todas as igrejas, mesmo que precariamente? Até em nosso movimento isto é visível, pois que ministério funciona há 40 anos, e que mais e melhor ajunta pessoas em seus eventos?

Pela prática, se deliberarmos a pecaminosidade em nossas igrejas, somos obrigados a dizer, então, que o homem é mais inclinado ao pecado do que a mulher.

Todo o refletir esperado por Deus de você acerca dele, implica em ser mulher. Antes de ser crente, de ser cônjuge, e até mesmo mãe, você é uma mulher!

Eis um pedaço do artigo que escrevi para a Revista Missão Mulher em uma edição passada: Mundo machista impregnado de preconceitos contra a mulher. Olhares tortos, sorrisos desconfortáveis, piadinhas pejorativas: mulher no volante, perigo constante. Por que será que só falam das loiras, sem nenhuma menção aos loiros? Se não bastasse esta desagradável rotina social, ainda é preciso enfrentar a minúscula quantidade de empregos nos setores clássicos (setores de decisão), assim como o reduzido salário em comparação com o nem sempre competente, mas sempre pomposo salário masculino. E pensar que muitas mulheres ajudam direta e indiretamente neste quadro irritante, se mostrando incompetentes em seu preparo, superficiais quanto à realidade, e volúveis em seu caráter. Assumem o estigma que para vencer é preciso ou ser feminista e lutar contra a raça masculina ou ser objeto de prazer, satisfazendo sexualmente o homem e recebendo migalhas de sua admiração e proteção (enquanto úteis).

A dificuldade em refletir a luz de Cristo está em priorizar o que está fora, esquecendo-se do que está dentro; ignorando o que você é, do que foi feita, para quê, e do que precisa para ser preenchida, além da forma de ser preenchida.

Leia 1 Timóteo 2.11-15. Este
texto é um dos mais difíceis de aceitação feminina. Existem várias implicações doutrinárias aqui; porém, quero realçar algo de extrema importância. Algo, verdadeiramente prioritário no texto: A maneira escolhida pelo Senhor de preservar a mulher, em meio à transgressão. O v. 15, originalmente diz: será salva dando à luz filhos, permanecendo com sobriedade na fé, no amor e na santificação. A idéia principal é a de que a fórmula escolhida por Deus para salvar a mulher é através de sua missão de mulher. Ligando-a a seus deveres legítimos, que Deus lhe atribuiu.

Você, como mulher, deve adorar a Deus de um jeito todo especial que só você, mulher, tem e sabe. Louvá-lo com sua sensibilidade admirável que a faz valorizar as pequenas coisas, considerando aquilo que é imperceptível ao homem. Louvá-lo com sua sabedoria e longanimidade que a faz perseverar nos trabalhos. Louvá-lo com sua força incomum que a faz resistir às pressões e ainda amar. Louvá-lo com sua inteligência e habilidade que a faz realizar vários trabalhos ao mesmo tempo, desnudando a inoperância masculina. Louvá-lo com seus defeitos e limites comuns a todo ser humano (masculino e feminino), entendendo que esta limitação a direciona para o Criador e Sustentador de todas as coisas que graciosamente reverte tudo em aprendizado.

Você adora a Deus, prioritariamente, assumindo aquilo que ele criou: sua singularidade como mulher. Você é criação particular de Deus. Há semelhanças com o homem: (1) Essencialmente tanto homem quanto mulher são idênticos diante do Senhor, Gálatas 3.28. (2) Possuem o mesmo Criador, Gênesis 2.7, 18; 5.1-2. (3) Possuem a mesma carne, Gênesis 2.22-24. (4) E o mesmo propósito, Efésios 2.10; Romanos 11.36.

Porém, apesar das semelhanças, existem diferenças: (1) Corpo e cérebro que revelam a diferença óbvia de toda a criação: masculinidade e feminilidade, Gênesis 5.2. (2) Objetivo, Gênesis 2.18. Esta palavra foi empregada 21 vezes na Bíblia. Em 2 vezes foi empregada à mulher como sendo auxiliadora, 3 vezes foi usada referindo-se ao auxílio que uma pessoa presta a outra. Mas, em 16 vezes esta palavra foi usada para descrever o próprio Deus. Quando Deus está dizendo: "Eu farei uma auxiliadora", está usando como referência para o homem o que Ele, o próprio Deus, é para nós. A mulher, assim como o homem, é criação particular de Deus. Criada especificamente para uma obra que somente ela, com os atributos recebidos do Criador, pode realizar.

Além disso, as Escrituras revelam o cuidado particular de Deus para com ela. Apesar da figura masculina de Deus, alguns exemplos e manifestações divinas, revelam a particularidade da mulher, ou da feminilidade (Isaías 66.13; Provérbios 4.3; Mateus 23.37). E, ainda, temos o cuidado de Deus para com ela na proteção, nos conselhos, no direcionamento (Mateus 19.9-10; Efésios 5.25, 28; Provérbios 14.1). Tudo isto revela a bênção (a vantagem) de perseverar em ser mulher, aos olhos do Criador. Como mulher você pode revelar ao homem o seu devido lugar, aquele que Deus instituiu. Nasceu mulher para completá-lo, não como uma pecinha a mais cuja utilidade seja somente o complemento, mas sim como fundamental; pois sem você, humanamente falando, não existiríamos.

A prova de sua importância e grandeza é ironicamente ensinada por Deus em sua palavra: em primeiro lugar fez da mulher a mãe, a que traz à vida, a que está ligada aos filhos de maneira toda especial. Em segundo lugar nos revela que os atributos e características mais admiráveis e que servem de base para a vida feliz e bem sucedida com o Senhor são comuns ao lidar feminino, e estranhos à realidade masculina: amor, bondade, longanimidade, compaixão. No linguajar popular, nós, homens, para sermos perfeitos temos de aprender a pensar e a sentir como você, mulher.

Isto é singular! Deus espera que sua transparência e dedicação sejam iniciadas em manter-se mulher; usufruindo tudo o que Ele lhe deu; e cooperando para o crescimento de todos (cônjuge, filhos e outros). Se você nascesse homem o mundo seria mais feio! Curta sua beleza inigualável e louve ao Criador por ter nascido mulher. Resplandeça a luz de Cristo, através da singularidade em ser mulher.

Refletindo a Cristo (2)

Quero continuar tratando do tema iniciado no domingo passado, baseado em Mateus 5.1-16, especialmente os versículos 14 a 16. Considerando a primeira figura usada por Cristo: o sal na terra, vimos, primeiramente, que devemos refletir o caráter e a obra de Cristo, como a paz, a alegria e a sabedoria, mesmo em meio às tribulações. E, em segundo lugar, vimos como refletir a Cristo. Como o sal, acrescentando sabor, e conservando-o; mantendo a perseverança na nova vida. Cristo realça a diferença daqueles que são dele, e como ele. E como esta diferença precisa ser vivida no mundo.

Seja com a figura do sal ou com a da luz, fica claro que o esperado é que sejamos diferentes. Que façamos a diferença no meio em que vivemos. Então, responderemos a pergunta: Como entender esta diferença através da figura da luz no mundo, usada por Cristo?

Em primeiro lugar, chamando a atenção, servindo de referencial (vv. 14-15). Se o sal serve para ilustrar a ação de Cristo em nós, e através de nós, na terra; ainda mais com a figura da luz. O foco aqui continua sendo a nossa dedicação em viver Cristo, a verdadeira luz. Por isso afirmou: “Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas; pelo contrário, terá a luz da vida” (João 8.12).

Vós sois a luz do mundo”. Ao passo em que vivemos Cristo, funcionamos para iluminar um mundo que está em trevas. A luz não tem sua origem em nós. Ou não depende única e exclusivamente de nós. A luz está em nós, na pessoa de Cristo, que é a verdadeira luz que ilumina o mundo. Então, não depende de nossa estratégia ou vontade particular, mas de parecermos com Cristo.

“Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte”. A luz de Cristo deve brilhar publicamente, como o agrupamento de casas com suas lâmpadas acessas. Quando viajamos de avião à noite percebemos como a luz dissipa as trevas, como ela chama a atenção em meio à escuridão. Olhamos para baixo e nada, tudo completamente escuro. De repente, visualizamos a luz, ou as luzes, como no caso de uma cidade. É isso o que Cristo está dizendo: é impossível esconder, camuflar, não chamar a atenção, quando acendemos a luz em um monte em trevas. Quando vivemos o caráter de Cristo, se torna impossível não chamar a atenção, positivamente. É impossível não marcar a diferença em meio a tantos igualmente perdidos; em meio a tanta mediocridade moral e espiritual.

Refletimos a luz, que é Cristo, no mundo quando servimos de referencial, como um farol em meio ao mar, principalmente quando a noite é castigada por tempestade, que esconde a luz natural dos astros celestes. E a característica que melhor revela o Senhor é o amor, claramente revelado no retrato do homem bem-aventurado (vv. 1-11). Por isso, Cristo afirmou a seus discípulos: “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros” (João 13.35). As pessoas podem até não compactuar de nossa fé, abraçando nosso estilo de vida; mas, reparam na diferença de nosso viver: Olhando, pensam: “Eis um pequeno Cristo. Não é perfeito como ele, mas é parecido com ele; e me faz pensar nele. E me incomoda, pois, me obriga a repensar meus conceitos, e meu estilo de vida”.

Em segundo lugar, iluminando (v. 15). Cristo afirma: que adianta ter a luz, mas não usá-la? A luz serve para alumiar a todos os que dependem dela. O verbo alumiar aqui é a palavra em grego lampei, de onde se origina a nossa contemporânea palavra lâmpada. E a idéia principal é a de resplandecer. Refletir o brilho. Quando acionado o interruptor é a corrente elétrica que quando passa pelo filamento, torna-o incandescente, produzindo luz. A lâmpada serve para resplandecer quando movida por força elétrica. Esta é a idéia de Cristo. Quando Cristo, com seu caráter, passa em nós ele torna nosso caráter incandescente, produzindo luz.

Iluminamos quando revelamos que com Cristo a vida tem conteúdo, tem sentido. Porém, limitados entre quatro paredes é impossível de se irradiar luz e, muitas vezes o nosso comportamento como filhos de Deus é bem assim. A igreja precisa entrar nas famílias, na vida das pessoas, sair debaixo das vasilhas da dependência humana, da vergonha, do medo e resplandecer a vida de Deus iluminando assim aqueles que vivem em trevas. Foi exatamente isto que aconteceu conosco. Lembram-se do texto considerado pela manhã? 1 Pedro 2.9: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”.

Tendo experimentado isto, Cristo nos convoca a sermos lâmpadas, para resplandecer a luz que vem dele aos outros; quebrando a ação das trevas (2 Coríntios 4.3-6). O conhecimento, o sentido que quebra a ignorância da idolatria, da crendice, da mesmice espiritual. O conhecimento que liberta o homem da cegueira, trazendo entendimento da glória de Deus. Como isto funciona através de nós? Quando as pessoas enxergam em nosso falar e proceder: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Este é o andar digno a que fomos vocacionados (Efésios 4.1-3). Funciona quando não vivemos como os demais homens (sem a luz) com seus cacoetes morais e espirituais (Filipenses 2.14-15).

Isto é impactante! (v. 16) Havia nos Alpes, uma pequenina igreja no alto de uma montanha coberta de neve. Era uma linda construção, que chamava a atenção de todos. Um turista que visitava aquela cidade observou um fato curioso: aquele templo não tinha luzes acessas durante a noite. O gerente do hotel explicou: “Foi um homem muito rico quem construiu aquele templo, doando-a à nossa comunidade. Em seu testamento ele colocou a exigência de que nunca deveria haver luz própria no templo. Contudo, hoje é dia de culto e o senhor pode observar o que acontece”. Então, quando escureceu, aquele turista observou que uma lusinha surgira ali; outra acolá; todas subindo o monte rumo à igrejinha e, em dado momento, quando as lusinhas se encontraram dentro do templo, a igreja toda brilhou, espalhando luz em seu redor, como um verdadeiro milagre. O mundo jaz em trevas. Nós, em Cristo, somos a luz do mundo.

Sua vida (pensamentos, palavras e ações) tem acrescentado Cristo, como tempero, à vida de outros?

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Refletindo a Cristo

“Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens” (Mateus 5.13).

Quando usamos o termo “refletir”, somos imediatamente levados à figura da luz, ou de seu reflexo. E, por isso, talvez, alguns até questionam o porque de Cristo ter usado a figura do sal na terra. Mas, “refletir” implica revelar, em exprimir, em traduzir.

Neste sentido, visando passar algum tipo de mensagem, a idéia do sal na terra funciona perfeitamente. Dá, até para entender o porque, provavelmente, Cristo usou primeiramente a figura do sal, para então usar a da luz no mundo.

Analisando as palavras de Cristo, primeiramente, temos de entender o que deve ser refletido. Quando analisamos as bem-aventuranças, e tentamos visualizar o retrato do tipo de pessoa da qual Cristo trata, a figura que nos vêm à mente é a do próprio Cristo (1-11): Humilde de espírito; sensível à realidade; manso; justo; misericordioso; limpo de coração; pacificador; perseguido e injuriado por causa da justiça, da verdade. Quem possui estas características? Quem melhor se encaixa neste retrato? Cristo. Isto fica, ainda mais claro, no v. 11, quando ele afirma que a perseguição e a injuria naturalmente aconteceria àqueles que se ligassem a ele. Aqueles que vivessem à sua semelhança, seguindo os seus passos. Lembre-se de que ele falava aos discípulos (vv. 1-2). Discípulo é aquele que perde sua identidade própria, moldando-se à identidade de seu mestre.

Assim, Cristo ensinou que seus discípulos deveriam refletir seu caráter e obra. Deveriam ser como ele. E exatamente por isso, logo no início da igreja, encontramos esta identificação (Atos 11.25-26): “cristãos”: pequenos cristos.

É neste sentido que entendemos o texto de Paulo, escolhido pelas irmãs como texto moto para este retiro 2 Coríntios 3.18: “E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito”. Ou, então, quando Paulo afirma em Gálatas 2.20: “Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim”.

Como último exemplo, entendemos quando Pedro afirma em sua primeira carta, 2.9: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”. Mais tarde, no mesmo capítulo, Pedro exorta seus leitores a serem exemplares em seu procedimento no meio dos gentios. É o entendimento do que Cristo ensinou a ele e aos demais discípulos.

O que refletir? Somos, então, convocados a refletir o caráter e a obra de Cristo. Não há como separar um do outro, pois o seu caráter é revelado através de seu ministério. E sua obra, naturalmente, revela o seu caráter (santidade, justiça, mansidão, misericórdia, verdade, ...).

Após entender o que refletir, precisamos compreender como refletir. Seja com a figura do sal ou com a da luz, fica claro que o esperado é que sejamos diferentes. Que façamos a diferença no meio em que vivemos. Como entender esta diferença através da figura do sal, usada por Cristo?

Em primeiro lugar, dando sabor. Acrescentar sabor, tornando a comida gostosa. Levando aqueles que a experimentam a fazê-lo prazerosamente, e não simplesmente por necessidade.

O que é uma feijoada sem sal? Ou, em se tratando de mistura em caldo, minha comida predileta: dobradinha. Como engolir uma dobradinha sem sal? O que seria de nós sem os temperos? Sem tempero não haveria a mínima possibilidade de se conquistar alguém pelo estômago.

Pois bem, com a figura do sal Cristo revela a necessidade de se acrescentar àquilo que não é comum aos homens, mas sim a Cristo; e aos que vivem com Cristo. Por exemplo: Paz, alegria e sabedoria. E isto é perceptível através da figura retratada naquele que é bem-aventurado: Que possui paz mesmo em meio à injustiça e à perseguição. Isto porque é pacificador, sendo, então, filho de Deus (v. 9). Que possui alegria mesmo em meio ao choro, à injustiça e perseguição. Isto porque possui alegria verdadeira ao ser limpo de coração (v. 8). Que revela sabedoria mesmo em meio aos problemas ao agir com misericórdia e mansidão, não cultivando o mal, e a ira; dando lugar assim para o ódio, a amargura, o estresse, a impossibilidade de se perdoar. Ser decididamente diferente do jeito comum de pensar, falar, agir, e reagir. Falar e agir como Cristo faria. Ser tão parecido com ele, que esta identificação se torna evidente, acrescentando sabor ao cotidiano, à vida insossa das pessoas.

Em segundo lugar, conservando. No tempo de Cristo não havia geladeira, muito menos freezer. Como as pessoas conservavam a carne? Salgando-a. Isto ainda é feito em nossos dias.

Nos alimentos tanto na forma “in natura” como processado industrialmente, a multiplicação microbiana ocorre em função do tipo de alimento e das condições ambientais. Os processos de conservação baseiam-se na destruição total ou parcial dos microrganismos capazes de alterar o alimento.

No processo comum de nossos dias, o frio é bastante utilizado na conservação dos alimentos perecíveis, tanto os de origem animal como os de origem vegetal. Basicamente, o frio conserva os alimentos porque retarda ou inibe a multiplicação microbiana.

Já o sal provoca a diminuição da atividade de água dos alimentos, que é um fator de necessidade para a reprodução microbiana, aumentando desta forma a conservação dos alimentos. Os alimentos salgados podem, assim, ser mantidos à temperatura ambiente. É o caso do charque, do bacalhau, sardinhas e de outros pescados.

Pois bem, com a figura do sal Cristo revela a necessidade de se conservar a vida. Conservar aquilo que vale à pena no viver. É claro que as aplicações são variadas. Poderíamos aplicar à doutrina, aos relacionamentos, à santidade, à própria nova vida doada por Deus aos seus.

Como podemos, simplesmente, aplicar à continuidade na tarefa anterior de dar sabor. Ser perseverante em refletir o caráter de Cristo e sua obra, conservando a diferença entre aqueles que são do Senhor e os que não são. Conservando o sabor.

Isto é fundamental! Se o sal vier a ser insípido, ... para nada mais presta senão ser jogado fora. Se o sal se tornar insosso, desagradável. Como isto ocorre? Quando ele perde suas características, suas propriedades.

O sal perde o sabor quando se nega a sua vocação, que é se dar. O valor do sal está em sua dissolvência, aceitando a sua missão invisível de ser sentido sem ser visto. O sal que é visto, não é sentido; pois o sal que é sentido, não é mais visto, porque se tornou parte do sabor que anima os humanos a comer com prazer. O sal se preserva como sal sendo capaz de se deixar comer, sumir, se tornar vida para os outros.

Cristo afirma que seus discípulos, como sal, se não se não se doarem aos outros para que suas vidas recebam o sabor que é Cristo, para nada mais presta senão ser jogado fora.

Se não servirmos para dar sabor à vida dos outros, acrescentando o tempero que é Cristo, por meio de seu caráter e obra, não servimos para viver. Isto é, deixamos de ser sal com todas as suas propriedades. Passamos a ser insosso, inútil e desagradável.

Sua vida (pensamentos, palavras e ações) tem acrescentado Cristo, como tempero, à vida de outros?

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Inteligência feminina


Costuma-se dizer que a mulher faz o que quiser com o homem! É o mesmo que se dizer que ela o tem em suas mãos, ou como afirmam algumas: “ele come o que eu der”.

Distante da pretensão inserida nestas afirmações, mas, próximo da mensagem, o Senhor revela através de sua Palavra que a mulher sábia é aquela que, conhecendo seu marido, sabe estabelecer a sua vontade, contribuindo para o viver.

O texto mais conhecido revela os dois lados da moeda: “A mulher sábia edifica a sua casa, mas a insensata, com as próprias mãos, a derriba” (Provérbios 14.1). De um lado, sábia é aquela que tudo o que faz implica em edificação para seu lar. Edificação, por usa vez, implica em amor, alegria, crescimento, ausência de “domínio”, de ludibriação, de malícia. A inteligência feminina, revelada pela constante percepção dos detalhes, ajuda a mulher a perceber o que seria melhor para os seus, e a melhor forma de fazer os seus entenderem isto, sem parecer que veio dela.

Por outro lado, insensata é aquela que tudo o que faz implica em destruição para seu lar. Um agir “fora de hora”, revelado por comportamento espalhafatoso, ou palavras iradas, ou uma insistente impaciência, transformando-a no retrato da chatice (um gotejar contínuo).

O mais interessante no texto é a idéia de que “com as próprias mãos” a mulher destrói sua casa. Isto é aplicável à mulher que se gaba de ter seu marido “na palma de sua mão”. Insensata, pois não percebe que ao buscar tal coisa, ou ao proclamar tal “astúcia”, está realçando a forma pecaminosa de agir no relacionamento com seu cônjuge. Um agir que não conta com a bênção do Senhor, por não ser santo e edificante.

A inteligência feminina é demonstrada em palavras e ações que visam edificar o lar, a partir da edificação do marido. Assim, a propaganda de que “o marido está na palma de sua mão”, ou “que faz o que você quer”, serve como confirmação de que a insensatez prevalece, destinando-a à destruição.

Assim, toda prudente mulher usa a inteligência que o Criador lhe deu para edificar sua casa, a começar por seu relacionamento conjugal; sendo sábia, no Senhor!

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Sucesso absoluto

Outro dia peguei um livro para ler. Era um livro escrito especialmente para tratar da área conjugal, endereçado a jovens casais. Livro evangélico, de autor cristão bem firmado! Encontrei a seguinte sugestão, logo no primeiro capítulo: “Como mandar a esposa embora sem o mínimo esforço”. A resposta é simples: Não a ame. A vida confirma aquilo que Deus já revelara, o que compactua com a tese do autor: A ausência de amor demonstrado, compartilhado, não somente esfria, como torna feio o relacionamento.

O Senhor afirma através das Escrituras: “As muitas águas não poderiam apagar o amor, nem os rios afogá-lo; ainda que alguém desse todos os bens da sua casa pelo amor, seria de todo desprezado.” (Cânticos 8.7). Isto não é utopia, não é apenas sonho para os românticos, é realidade; porém, é realidade para um amor vivido, compartilhado. O versículo anterior, falado pelo noivo, afirma: “Põe-me como selo sobre o teu coração, como selo sobre o teu braço, porque o amor é forte como a morte, e duro como a sepultura, o ciúme; as suas brasas são brasas de fogo, são veementes labaredas.” (Cânticos 8.6). Estas palavras resumem o tema de todo o livro. Cânticos de Salomão não é um livro simbólico do relacionamento de Cristo com sua igreja. Cânticos de Salomão não é simplesmente uma cantata. Cânticos de Salomão é um livro revelado por Deus para falar do amor. Para provar que a vida a dois é possível. Que o casamento pode e deve ser bem sucedido. Que o relacionamento conjugal é para ser vitoriosamente alegre, bonito, prazeroso e divino.

“Põe-me como selo sobre o teu coração, como selo sobre o teu braço”. Um sinete ou um selo era um anel usado na mão direita, ou carregado sobre o coração por meio de uma corrente pendurada no pescoço. Era emblema de autoridade e, portanto, uma propriedade muito preciosa. O simbolismo é a expressão do desejo irresistível de ser a preciosidade de seu cônjuge. Ser aquilo que vale a pena! Mesmo se tudo der errado; se todos os projetos fracassarem; se todos se afastarem, eu ainda o tenho. Ou mesmo que o sucesso bata a porta, trazendo até aquilo que não foi planejado, coisas grandiosas e maravilhosas, ainda terei minha maior preciosidade: ainda a terei como esposa. É impossível ser aquilo que vale a pena sem viver o amor, sem compartilhar os pensamentos, sem diálogo, sem o beijo carinhoso, e o abraço confortante; sem o prazer do relacionamento sexual contínuo e crescente.

Todos os noivos têm pais, padrinhos, amigos; estão rodeados de pessoas sorridentes e tristes; e ouvem todos os tipos de conselhos (do mais interessante e edificante ao mais ridículo e destruidor). Descobrem inúmeros casais que há muito não compartilham o amor. Estes vivem teatralmente, vivem das aparências, que enganam a muitos, mas não a todos. A razão desta infelicidade? Não vêem seu cônjuge como o selo sobre o coração, como selo sobre o braço. Não vêem seu cônjuge como sua preciosidade. Como aquilo que realmente vale a pena.

As desculpas são muitas, e diversificadas; mas, a realidade é que tem prevalecido uma incrível onda de infidelidade. Infidelidade não somente pensando na traição conjugal, mas pensando em tudo aquilo que é prometido ao Senhor e às testemunhas, e a si própria, no dia do casamento - amar, cuidar, respeitar, servir, priorizar, etc... Quando não se cumpre com qualquer destas promessas, torna-se infiel. E esta, sim, é a razão principal pelo desastre de muitos casamentos: não se vive aquilo que é prometido, logo, como esperar sucesso?

O amor não pode ser apagado ou afogado pelas muitas águas; nem pode ser trocado por todo e qualquer bem, desde que seja vivido, desde que seja compartilhado, dia-a-dia, através do planejamento, do diálogo, das conquistas, das derrotas, do afeto, e do temor ao Senhor. Quem vive este amor, experimenta a alegria no Senhor. E percebe que o casamento, o autêntico, é sucesso absoluto.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Nome de que vive, mas está morto

“Conheço as tuas obras, que tens nome de que vives e estás morto” (Apocalipse 3.1b). Esta afirmação é feita por Cristo à igreja em Sardes. Nome, posição, obras, tudo o que é esperado de uma igreja. Porém, morta!

A ênfase nesses casos não está na ausência de atividades, ou mesmo, de responsabilidades. Como a carta revela, a Igreja em Sardes tinha obras a apresentar; porém, não íntegras: “não tenho achado íntegras as tuas obras” (v. 2b). Assim, a ênfase recai sobre a motivação; sobre a intenção do coração.

Igrejas a cada dia mais próximas do ativismo estrutural, e mais distantes do prazer da companhia de seu Senhor, e do cuidado para com os seus. Pastores e líderes paulatinamente mais profissionais, e menos espirituais. Crentes perdendo o primeiro amor (assunto da primeira carta, a Éfeso), e jazendo em seus sonhos e projetos de gigantismo pessoal. Possuem obras! Há crescimento numérico. Há organização, variedade, e sensação de “dever” cumprido. Mas não há paz! Não há efervescente prazer no Senhor. Não há vida, revelada na crescente amizade entre os irmãos; na aplicação contínua dos princípios divinos; e, na livre, e doce, manifestação de adoração.

Diante desta realidade há uma tremenda urgência de quebrantamento. “Sê vigilante e consolida o resto que estava para morrer. Lembra-te do que tens recebido e ouvido, guarda-o e arrepende-te” (vv. 2a, 3a). É Cristo convocando a um acordar para a realidade, e um conseqüente quebrantar. E isto, por meio de dois passos fundamentais: Primeiramente, arrependimento. Reconhecer o erro. Assumir falência no governo de sua própria vida. E, em segundo lugar, um viver pelos princípios do Senhor. Um lembrar-se do que tem recebido, e guardar, isto é, considerar. Viver, como escreveu Tiago: “Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos” (1.22). Seria um recomeço. Um abandonar da morte em vida, e um assumir da vida em morte: morte do eu para um viver em Deus.

O nome, a posição assumida e guardada, as obras, tudo tem seu valor; mas, se no coração não houver vida, de nada valem. Se o combustível para tudo não for a humildade no Senhor, o amor por ele, manifestado aos irmãos, e o prazer interminável em viver aquilo que ele doa; haverá morte. Respiração, porém, sem esperança.

Somos exortados a assumir o nome de “Cristo”. Assumir nossa posição nele. Nossas obras serem “nosso culto a ele”. Nada em nós, nada de nós, muito menos para nós. Pois, não devemos morrer com nosso nome, nossa posição, e obras, que nada podem. Mas sim viver em Cristo, por ele e para ele, sempre.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Rotina de crente



Você acorda
Você se arruma
Você sai
Você chega na igreja
Você diz (várias vezes): “Oi, tudo bem?”
Você responde: “Tudo bem!” (mesmo que não esteja)

Você sorri, ou pelo menos tenta
Você ora
Você canta
Você lê a Bíblia
Você ouve pessoas e grupos cantando
Você ouve a mensagem
Você acompanha a aula

Você conversa
Você cumprimenta as pessoas
Você vai embora

Você almoça
Você descansa
Você volta para a igreja
Você passa por todo o processo acima alistado, menos acompanhar a aula

Domingo após domingo
Semana após semana

Tem melhorado seu relacionamento com o Senhor?
Tem melhorado seu relacionamento com a família?
Tem melhorado seu relacionamento com os irmãos?

Caso contrário,
Você continuará acordando
Você continuará se arrumando
Saindo
(....)
E para quê?

Que o senhor enriqueça sua vida!

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Batidas...


Batidas. O tempo se mede com batidas. Seja com as de um relógio, ou do coração. Os gregos tinham duas palavras diferentes para indicar esses dois tempos. Ao tempo que se mede com as batidas do relógio - embora não tivessem relógios como os nossos - davam o nome de chronos. Daí a palavra “cronômetro”.

As batidas do relógio insistem numa absoluta indiferença à vida. Vai dividindo o tempo em pedaços iguais: horas, minutos, segundos. Não importa se há riso ou choro, vida ou morte; suas batidas são frias, e duras de se agüentar.

Há, entretanto, o tempo que se mede com as batidas do coração. A estas batidas falta a precisão dos cronômetros, pois dançam ao ritmo da vida (e da morte). Batidas tranqüilas, e de repente agitadas. Tocadas pelas emoções, dá saltos. Tropeça. Retorna à rotina. A esse tempo os gregos davam o nome de kairós.

Chronos é um tempo sem surpresas. Kairós, ao contrário, vive de surpresas. Nunca se sabe quando sua música será lenta, ou animada; calma ou estressada. O relógio nos diz com precisão o número de dias, horas e segundos decorridos desde o nosso nascimento. Porém, o nosso coração nada sabe sobre esses números. Quando me lembro de algumas experiências, é como se as tivesse vivido ontem.

Nossos filhos crescem (os meus são adolescentes). De vez em quando, nos damos conta disto, e mal acreditamos. Quando somos guiados por chronos lembramo-nos de que estamos envelhecendo. Porém, quando guiados por kairós percebemos que estamos vivendo.

Quem sabe somar e multiplicar tem a chave para entender as medições de chronos. Porém, esta chave não funciona para o coração, pois kairós mede a vida pelas pulsações das emoções. Kairós mede a vida por saudades. Toda saudade é uma espécie de velhice. Velhice não se mede pelos números de chronos; ela se mede por saudade. Saudade é o corpo brigando com o chronos, não suportando perder o que se ama. É como a criança e o colo que o tempo levou, mas que não gostaríamos de que tivessem sido levados! E isto nada tem a ver com horas, minutos, e segundos; mas, sim com emoções experimentadas por kairós.

Heráclito, filósofo grego, afirmou que o “tempo é criança brincando, jogando”. Crianças odeiam chronos, odeiam as ordens que vêm dos relógios. As crianças não usam relógios para marcar tempo; usam relógios como brinquedo; usam prazer, emoção, usam seus próprios corpos. Criança é kairós brincando com chronos, como se ele fosse bolhas de sabão...

Salomão afirmou em Eclesiastes 3.1-15, que há tempo para todo propósito debaixo do céu. E que o Senhor o determinou para nossa experiência. A começar por tempo de nascer e tempo de morrer. Porém, como resultado de sua experiência de vida afirmou em todo o livro que enquanto há fôlego é tempo de viver. O que inclui alegrias e tristezas, vitórias e derrotas, entre tantas outras coisas. Mas, sempre é tempo de viver, pois a morte chega quando não temos prazer em nossos dias. Quando se escurece o sol, a lua e as estrelas. Quando tudo se transforma em medo e dor. Em dias assim, as batidas que imperam são as de chronos, aguardando somente a partida final. O romper do fio de prata; o despedaçar do copo de ouro; o voltar do pó a terra, e do espírito a Deus, que o deu.

A cada fim de ano chronos faz as somas e me diz que fiquei mais velho. Então, kairós vem em meu socorro para espantar a tristeza. Vem como criança, brincando com chronos. Lembrando-me de que mais valioso do que envelhecer, é viver. Ter um relacionamento de amor com a vida. E, quando sou levado pelas batidas de kairós, acontece uma estranha metamorfose: deixo de ser velho. Sou criança de novo..., experimentando vida abundante.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Escutatória

Há muitos anunciados cursos de oratória. Nunca vi um anunciado curso de escutatória. Todos querem aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas tenho receio de que ninguém se matricule.

Falar é fácil; mesmo quando não se seguem as regras da retórica. Escutar é complicado e sutil. É incrível como não agüentamos ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que temos a dizer. Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração e precisasse ser complementado por aquilo que temos a dizer, que é muito melhor. Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil da nossa arrogância e vaidade: no fundo somos os mais bonitos... Parafraseando Alberto Caeiro: “Não é bastante ter ouvidos para se ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma”.

É preciso tempo para entender o que o outro falou. Quando se fala logo a seguir são duas as possibilidades. Primeira: Ficar em silêncio só por delicadeza. Na verdade, não se ouve o que outro fala. Enquanto o outro fala se pensa nas coisas que falará quando o outro terminar sua (tola) fala. Fala como se o outro não tivesse falado. Segunda: Ouvir o que o outro falou. Mas reagir como que o que seria novidade para quem fala, não o fosse para quem escuta. Tanto que nem se precisa pensar sobre o que se falou. Em ambos os casos se chama o outro de tolo. O que é pior que um tapa. Ao contrário, o longo silêncio quer dizer: “Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou”.

Há uma música que diz: “Eu te busco, te procuro, ó Deus. No silêncio tu estás...”. Apesar de não ser tocada e cantada em “silêncio”, esta mensagem tem muito a ensinar. Nas Escrituras aprendemos que a natureza revela seu Criador, em silêncio: “Não há linguagem, nem há palavras, e deles não se ouve nenhum som; no entanto, por toda a terra se faz ouvir a sua voz” (Salmo 19.3-4). É maravilhoso como autenticamos isto quando em silêncio, longe do barulho da vida cotidiana, contemplando a criação.

Aprendemos que é possível se alimentar de silêncio. Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio de dentro. Ausência de pensamentos. E aí, quando se faz o silêncio de dentro, se começa a ouvir coisas que não ouvia. A música acontece no silêncio. É preciso que todos os ruídos cessem. No fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos. Talvez seja essa a essência da experiência religiosa - quando ficamos mudos, sem fala. Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia. Ouvimos o Senhor: “Bom é aguardar a salvação do Senhor, e isso, em silêncio” (Lamentações 3.26). Daí a importância de saber ouvir os outros: a beleza mora lá também. Comunhão é quando a beleza do outro se junta num contraponto com nossa beleza. Comunhão só é possível quando boca, ouvidos e coração partilham de um mesmo momento. Mas, enquanto existirem somente bocas.....
(Motivado por texto de Rubem Alves em "O amor que acende a lua")

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Cresçamos!

Os da direita embicam cada vez mais para seu lado. Os da esquerda, da mesma maneira para o lado oposto. Os do centro (existem?) não sabem para onde ir. Como unir este povo tão dividido por suas convicções?

“Seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo” (Efésios 4.15).

Gosto deste texto! Aprecio a revelação do Senhor por meio da visão, e sabedoria de Paulo. Temos muito a aprender com este texto de simples entendimento, mas de profunda aplicação para o desenvolvimento de nosso movimento, buscando a edificação no Senhor.

Primeiro, “seguindo a verdade”. Seguir a verdade, que é o próprio Cristo, é passo essencial para todo o que é seu discípulo. Não é qualquer verdade, nem tão pouco “a nossa verdade”, mas Cristo, como o apóstolo apresenta nos versículos anteriores.

Segundo, “seguindo a verdade em amor”. Não é somente a assimilação do que compõe a verdade, o que em parte vemos sistematicamente através da doutrina, mas a incorporação da verdade, em amor. Aliás, esta verdade, que é Cristo, em sua essência não existe sem amor. Esta verdade aponta para o amor, caminha pelo amor, suporta por amor, é o amor.

Terceiro, “seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo”. Uma vida na verdade, e através da verdade, que é Cristo, alicerçada por Seu amor, tem como única conseqüência o crescimento, e como o apóstolo afirma: em tudo. Crescimento espiritual, refletido através da maturidade, da serenidade nas resoluções tomadas. Crescimento moral, observado por atitudes eticamente equilibradas, e em nada conflitantes com a verdade. Crescimento social, visível nos relacionamentos saudáveis, a começar pela liderança, pelos pastores, sendo reproduzido nos membros, criando amizade, parceria, desenvolvimento para a glória do Senhor. Crescimento material, resultado da unidade entre as igrejas que compõem o movimento. Enfim, crescimento em tudo!

Quarto, “seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo”. Todo o processo, bem estruturado, bem amarrado, seguindo os princípios daquele que é Senhor da Igreja. O que nos cabe é o desejo de ser-lhe fiel, como nos apresenta o apóstolo na continuação do texto: “todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor” (v. 16).

Priorizamos a fidelidade ao Senhor por meio de seus princípios. Mas para que esta fidelidade seja completada, faz-se necessário transformá-la em algo visível, palpável, experimentável nos relacionamentos, nas parcerias de trabalho, na serenidade nas decisões.

Sonhamos com um povo batista regular maduro, modelo na verdade, no amor, no crescimento, enfim no relacionamento com o Senhor, observado no relacionamento entre nós.
Cresçamos, unidos no Senhor!

sábado, 14 de junho de 2008

Qual é a sua identidade?

Pertencemos a um mesmo movimento (batista regular). A mesma associação (seja estadual ou nacional). Temos o mesmo objetivo (adorar ao Senhor, contribuindo com a evangelização e a edificação para o crescimento de seu Reino). Usamos todos os mesmos princípios (através das Escrituras). Caminhamos na mesma estrada teológica (conservadora, isto é, não liberal, nem neo-ortodoxa). Além disso, pertencemos à mesma Ordem de Pastores; e nos cumprimentamos, com largos sorrisos, nos mesmos prédios, onde freqüentamos as mesmas reuniões, conferências, etc.

Por que não somos verdadeiros irmãos; trabalhando juntos, com autenticidade, verdade e alegria para o Senhor? Por que não servimos de modelo para os membros de nossas igrejas, revelando a harmonia da Igreja de Cristo, através de sua liderança?

Creio que o problema está na questão de nossa identidade!

Qual é a sua identidade? Eu sou batista regular, o que implica em:
Ser bíblico, assumindo os princípios do Senhor como diretriz para a vida.
Ser calvinista, crendo na graça de Deus.
Ser conservador, mantendo a linha teológica ortodoxa.
Ser dispensacionalista, fazendo distinção entre Israel e Igreja.
Ser pregador das Escrituras, enfatizando a pregação expositiva.

Historicamente, essa descrição identifica um batista regular. Você consegue enxergar seu retrato dentro desta moldura?

Como disse, creio que a dificuldade está em nossa identidade; pois apesar de pertencemos ao mesmo movimento, e freqüentarmos as mesmas reuniões, não compartilhamos das mesmas convicções. Diante disto o que fazer?

Alguns pregam a harmonia, mesmo que ilusória (ou seria hipócrita?): manter as aparências; manter a superficialidade ministerial, e comportamental. Daí as associações que nada produzem, ou edificam; assim como os seminários completamente sem diálogo, formando ministros com pesos e medidas distintas, aumentando a diferença na identidade do grupo.

Outros pregam a cisão (ou seria confusão?): brigar; separar, mantendo relações com quem pensa e age como nós. Daí as discriminações, as perseguições, e as programações bairristas. O resultado é o isolamento de muitos, e a aproximação de poucos, que pouco, nada, ou quase nada, ajuda.

O que fazer?

Temos, por exemplo, cinco seminários batistas regulares no Brasil. Após tantos anos de história, estes não possuem sequer diálogo. Chega a ser intrigante observar que mesmo quando presentes a uma associação nacional, sequer sentam para um bate-papo de dez minutos. Por quê? Será por questão de identidade, ou outras razões? E pensar que eles poderiam tanto ajudar um ao outro! Mas, ao contrário, parece que a política é a do esvaziamento. Já pensou se, pelo menos, uma vez em cada dois anos, seus dirigentes se encontrassem para um diálogo? Para trocarem informações, experiências, buscando aperfeiçoar o cumprimento de seu dever? No mínimo, serviria de exemplo para seus alunos, mostrando o esforço pela unidade em Cristo.

A associação nacional vem por aí! Será que teremos alguma novidade realmente edificante?
Ah! Qual é mesmo a sua identidade?

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Sofrimento que traduz alegria (parte 2)

Filhos transformados em órfãos; cônjuges em viúvos; e pais assaltados pela indesejável surpresa de perderem seus filhos como que fora de tempo. São situações que traduzem “dor, sofrimento”. O que pensar e dizer aos que sofrem?

Há algumas consideráveis palavras a serem ditas: A mais comum é a lembrança de que a vida não termina aqui. Isto é, a morte não é o fim, mas o começo de uma nova realidade; não qualquer uma, mas a realidade ideal, em meio a um relacionamento perfeito com Deus. Esta consideração se apresenta atraente para aqueles que são do Senhor. E para os que não são (ou, não foram)? Geralmente, a lembrança desta realidade surge; porém, prevalece o silêncio como melhor maneira de não constranger, ou de não aumentar o sofrimento.

Há outra palavra comum que é aplicável a todos, e, por isso, repetida, que é a lembrança de que Deus é soberano. “Deus sabe o que faz!”, é a afirmação preferida do povo. Seja por absoluta, e reflexiva, convicção; ou por simplesmente não saber o que dizer; se repete a tese de que Deus é o responsável pela dor, e isto, baseado em seu total conhecimento, que não lhe permite errar; mas, lhe permite imprimir sofrimento.

Há ainda uma respeitável consideração teológica que nos empurra a uma reação positiva. A lembrança de que muito da dor que sofremos na perda se dá por egoísmo. Isto é, sabemos, como Paulo afirmou, que melhor é partir e estar com o Senhor do que ficar. O que traz a implicação de que aquele que partiu no Senhor, está numa situação infinitamente superior à que estaria se continuasse entre os que ficaram. Por que, então, sofremos? Por que lamentamos? Porque lidamos com a “nossa” perda. Lidamos com o “nosso” sentimento. Conseqüentemente, choramos por nós, e não pelo que partiu. Choramos pela dor que sentimos, pela ausência, pela saudade.

Isto reflete precisamente a alegria. Sim! Pois, quando sentimos tristeza pela saudade de alguém é sinal de que vivemos momentos que valeram a pena. Saboreamos momentos de satisfação, de regozijo; momentos que não gostaríamos de experimentar o término. Ninguém sente saudades de alguém que não conheceu. Ninguém sofre a perda de alguém indesejável. Sofremos pelas marcas deixadas por aqueles que trouxeram alegria.

Neste sentido, o sofrimento traduz alegria. É exatamente por isso que alguns têm medo de se relacionar com profundidade, pois temem sofrer a perda, ou a ferida decepcionante, causada por alguém que ama. A verdade é que quando lidamos com o sofrimento por alguém, é porque experimentamos (direta ou indiretamente) a alegria com esta pessoa. Isto, talvez, torne o sofrimento diferente aos nossos olhos. Uma boa maneira de lidar com o sofrimento é não vê-lo puramente, isto é, não considerar somente o sofrimento e sua dor. Devemos considerar a causa do sofrimento, a motivação da dor na perda. E isto nos conduzirá ao passado; nos guiará a momentos marcantemente satisfatórios. Se, pode aumentar a consideração da perda? Sim, mas pelo menos balanceará o sofrimento e a alegria. E confirmará que não há sofrimento de perda para casos e pessoas em que não houveram alegria.

Vale a pena, então, buscar a alegria com o próximo, já que corro o risco de sofrer? Este é o questionamento de alguns. Eu respondo com outro questionamento: Vale a pena não viver?

terça-feira, 22 de abril de 2008

Sofrimento que traduz alegria (parte 1)

Por que temos de sofrer? A resposta de que é conseqüência do pecado é suficiente, teologicamente falando; mas, será que Deus é unicamente sistemático, relacionando-se em conformidade com suas considerações dogmáticas para fazer com que o homem entenda e reaja teologicamente? Creio que não.

Quando olhamos para as Escrituras observamos um Deus bem mais voltado para seus relacionamentos do que para suas “aulas” de teologia. Ao contrário do que pensam e determinam alguns, o entendimento teológico é conseqüência do relacionamento de Deus com sua criação. Não é o entendimento teológico que determina o que Deus é, sente e faz; ao contrário, este entendimento é a tentativa humana de moldurar a Deus; não para limitá-lo, o que em muito acontece, mas para torná-lo acessível à mente limitada do homem.

Teologizar é tarefa árdua, pois lida com algumas limitações, que geram tendências e vícios. As limitações existem pela simples, porém profunda, compreensão de que a limitadíssima criatura precisa pensar e compreender o ilimitado Criador. É tarefa desproporcional para o mortal pensar no Imortal, colocar em moldes finitos a eternidade. O tempo e, principalmente, a ausência deste, limita a abrangência e as considerações, levando o discurso a ser em muito subjetivo, isto é, sentido, porém impossível de ser descrito absolutamente.

As tendências, por sua vez, existem no conformar o Criador à grade particular de cada pessoa, de cada movimento (ou linha) teológico. Cada movimento estabelece seus “sim” e “não”, seus “prós” e “contra” no entendimento de Deus e de sua vontade, conforme a herança de sua formação, enquadrando o Criador dentro de sua cosmovisão. Muitos se acomodam a esta realidade por perceber que todos são indiscutivelmente passíveis de tal tendência. Muitos, sequer conseguem teologizar, pois gastam todo seu tempo e energia no difícil exercício da busca de uma maior honestidade hermenêutica.

Porém, a limitação observada nesta tendência torna-se um vício quando o “pesquisador” assume o lugar do “pesquisado”, fazendo do laboratório toda a expressão da realidade do mundo pesquisado. Resumindo, quando o teólogo torna-se “deus”, invertendo assim a ordem revelada: ao invés de sermos criados à imagem e semelhança do Criador, o pesquisador torna Deus à imagem e semelhança da criatura, o homem. Isto se dá quando o teólogo estabelece o que Deus é, sente e faz; dando às suas próprias observações (interpretações) um valor absoluto com status divino. Esta tendência de fazer Deus gostar e falar aquilo que gostamos, ou de não gostar daquilo que não gostamos, engaiolando o Criador como um pássaro que come e bebe o que damos; empobrece a arte da teologia, assim como seu resultado.

Assim, na arte de teologizar, um dos primeiros exercícios do bom pesquisador é o de questionar suas “descobertas”: é o Criador ou sou eu quem estabelece isso? Para muitos, o exercício não passa deste ponto; porém, para os que o ultrapassa, conhecer, entender e viver o Senhor torna-se a mais bela e responsável tarefa a ser experimentada. Bela pela expressão possível do Senhor e pela perplexidade das descobertas; responsável pela seriedade no viver e comunicar aquilo que, por graça, tenha chegado até nós.
Com estas considerações voltemos ao início do texto: Por que temos de sofrer? Se permitido, continuaremos no próximo texto a ser postado.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

A Beleza da Igreja

Há duas verdades bíblicas quanto a Igreja, que quero destacar. A primeira é que sua beleza não está no prédio grande, bem estruturado, ... Sua beleza não está no vestuário de seus membros... Sua beleza também não se encontra no sorriso ou na seriedade... A beleza da igreja está em seu Deus!

“Edificarei a minha igreja” - Nossa existência deve-se a Ele!
“Ele é a cabeça da igreja” - Nosso viver é determinado por Ele!

É, inclusive, esta realidade que traz seriedade ao ministério, revelando o peso da responsabilidade que temos diante do Senhor: “Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos para pastoreardes a Igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue” (Atos 20.28).

A fonte de nossa beleza é Deus com toda a Sua perfeição, Sua grandeza imensurável, a eternidade, onipotência, onisciência, onipresença, majestade e soberania. O que torna a igreja diferente é o fato dela ser de Deus, o que implica em uma conduta vívida de moralidade, onde se destaca a santidade, a justiça e o amor. É Deus operando em nós e através de nós: “Ora àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós, a ele seja a glória, na Igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para o todo o sempre” (Efésios 3.20-21).

Assim, somos, como igreja, belos, quando refletimos a glória de Deus, pois é para isso que fomos chamados: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para sua maravilhosa luz” (1 Pedro 2.9).

A segunda verdade é que a beleza da igreja é mais bem revelada nos relacionamentos. É interessante como todos os textos que tratam da sabedoria de Deus, da maturidade que dEle procede, apontam para a necessidade de relacionamentos saudáveis (Tiago 3.13-18). A única forma de manifestar a beleza da igreja, que é o Senhor, refletindo seu caráter santo, justo e amoroso, é através dos relacionamentos.

Revelar aquilo que não é comum aos homens, aquilo que aos olhos desta sociedade egoísta, invejosa, e por isso corrupta, parece utopia, sonho impossível de ser realizado: o amor, a misericórdia, a bondade, o perdão, o viver em comunidade, em família, buscando o bem de todos, buscando a edificação, isto é, o crescimento por meio da maturidade, do discernimento, da visão de Deus em nós, e por meio de nós (Colossenses 3.12-17).
Não foi por acaso que o Senhor Jesus Cristo afirmou que seríamos conhecidos como seus discípulos se amássemos uns aos outros: “Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também ameis uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros” (João 13.34-35).

quinta-feira, 20 de março de 2008

Deus


Eterno, então Imane
Ascende ao pecado
Distante da vida em pane
Transcende Imaculado

Terno, então acessível
Abraça o pecador
Desfaz o impossível
Como imanente Redentor

Como abarcar transcendência
E imanência numa só essência?

A Ordem que sustenta o universo
Traduz inteligência extra-humana
A paz do convertido perverso
Induz à interferência sobre-humana

Pr. Wagner Amaral
20/03/2008

quinta-feira, 13 de março de 2008

Adoração "musical"


Criar ambiente e fixar conteúdo. Independentemente das diversificadas opiniões, estes objetivos têm prevalecido na história da música, especialmente a partir do ano 1500; deixando para trás a “música gótica”, em que compor e interpretar era tarefa de todo músico, através de improvisações. Desde que a tarefa de compor e de interpretar se tornou distinta, os objetivos de criar ambiente e fixar conteúdo passaram a conviver ora em acirrada disputa ora em harmoniosa e bela parceria. Evidentemente tal instabilidade se deu mais pela interpretação e definição de cada músico do que pelas possibilidades da própria arte musical.

Quando transportamos estes objetivos para a música na igreja, pensando, exclusivamente, em adoração; devemos considerar que tipo de ambiente é desejável? Uma resposta rápida e concisa seria: Ambiente de adoração. Este, seria, provavelmente, melhor compreendido como ambiente de louvor e de gratidão que nos leve a pensar em Deus; ambiente de alegria que nos ligue a Ele; ambiente de reflexão que nos ligue a Sua Palavra; ambiente de dedicação que nos leve ou ao arrependimento, ou ao desejo de servir; e ambiente de amor que produza comunhão entre os que são do Senhor.

Diante deste quadro a sucessiva pergunta seria: Que tipo de música cria estes ambientes? Novamente, uma resposta simplória (normalmente dada) seria: Música que traduza adoração. Porém, a pergunta persiste: que tipo de música cria os ambientes desejados para a adoração?

Quanto à letra? Uma breve resposta seria a de que seu conteúdo deve concordar com a Revelação de Deus (Salmo 19.7ss). Uma letra que apresente, musicalmente, a perfeição que restaura a alma; que dá sabedoria; que alegra o coração; que conduza ao discernimento e a irrepreensibilidade. Que seja agradável ao Senhor: “As palavras dos meus lábios e o meditar do meu coração sejam agradáveis na tua presença, Senhor, rocha minha e redentor meu!” (v.14).

Quanto à melodia? Que seja agradável, coerente, e significativa (Salmo 137.1-4). [Melodia é uma sucessão dos sons musicais combinados. É a
voz principal, que dá sentido a uma composição musical. Encontra apoio na harmonia, que é a execução de sons simultâneos dos demais instrumentos ou vozes quando se trata de música coral
] Os israelitas questionavam a possibilidade de melodiar as canções de adoração em ambiente conflitante: “Como haveríamos de entoar o canto do Senhor em terra estranha?” (v.4). A melodia deve convergir o ambiente de adoração a seu conteúdo, traduzindo uma coerência significativa ao adorador e ao Adorado.

Quanto à harmonia? O óbvio! Que seja harmônica, isto é, perceptível, ordeira, e bela (Salmo 19.1-6). [Harmonia é o campo que estuda as relações de encadeamento dos sons simultâneos (
acordes). A harmonia é um conceito clássico que se relaciona às idéias de beleza, proporção e ordem
] A música na adoração deve traduzir e transmitir os atributos do Senhor, revelando Sua beleza, Seu controle e sensibilidade; à semelhança da descrição de Davi no Salmo 19, quando mostra que a criação proclama a glória de Deus, através destas características: “por toda a terra se faz ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo” (v.4).

Quanto ao ritmo? Que estimule os adoradores a uma reação que propicie o ambiente esperado (Salmo 150). [Ritmo designa aquilo que flui, que se move, movimento regulado. O ritmo está inserido em tudo na nossa vida. Ritmo é o
tempo que demora a repetir-se um qualquer fenômeno repetitivo, mas a palavra é normalmente usada para falar do ritmo quando associado à música, à dança, ou a parte da poesia, onde designa a variação (explícita ou implícita) da duração de sons
com o tempo] Observamos tipos de ambiente distintos na adoração, como ambiente de alegria ou de contrição. Assim como na comunicação (inclusive na arte da homilia) usamos ritmos distintos no falar e no gesticular para expressar da melhor maneira possível a mensagem de Deus, atraindo a atenção do ouvinte, conduzindo-o a uma reflexão, aceitação e prática do exposto; assim, também, almejamos com o ritmo na música. O Salmo 150 nos direciona a variados ritmos, a partir dos instrumentos alistados: "Louvai-o ao som da trombeta; saltério e harpa; adufes e danças; instrumentos de cordas e flautas; címbalos sonoros; címbalos retumbantes".
_____________________________________________
Enfim, música que traduza adoração. Mantendo o foco no Adorado, mas, estimulando o adorador a uma adoração verdadeiramente espiritual: “Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as cousas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém.” (Romanos 11.36).

sexta-feira, 7 de março de 2008

O valor da música


A música é um aspecto da adoração. É interessante notar que nas diversificadas visões dos personagens bíblicos acerca da presença de Deus, ou da habitação de Deus, há algo em comum: a música!

“Então vi no meio do trono e dos quatro seres viventes e entre os anciãos, de pé, um Cordeiro como tendo sido morto. [...] E entoavam um novo cântico.” (Apocalipse 5.6-14).

Os santos cantavam a respeito de Cristo, a respeito da redenção mediante o sangue; enfatizando os propósitos soberanos de Deus em atrair para Si mesmo um povo, para que sejam reis e sacerdotes.

A música é parte integrante da adoração. Considerando em sentido bem específico sua função, notamos que ela possui dois objetivos, que são (ou podem ser) tanto distintos quanto congruentes. E estes têm se confirmado na história humana: (1) Criar ambiente, e (2) fixar conteúdo. Durante grande período na história eclesiástica, o canto gregoriano serviu para propiciar um ambiente espiritual, facilitando a reflexão. A partir da Reforma protestante, a música congregacional é implementada por Lutero, objetivando ensinar o conteúdo das Escrituras. As duas realidades, modificadamente, perduraram até os tempos pós-modernos.

Estas realidades estiveram presentes na rotina de Israel, e uma das provas disto são os salmos, verdadeira herança dos sentimentos e da aprendizagem do povo. Como exemplo, temos textos já considerados:

1. (2 Samuel 6) “Davi dançava com todas as suas forças diante do Senhor”. A adoração de Davi manifestava suas emoções, revelando o ambiente de alegria; porém, não trazia naquele momento nenhum conteúdo teológico específico (14-15, 21).

Alguns poderiam argumentar que junto ao ambiente musical, Davi ensinou ao povo sacrificando ao Senhor, fixando assim ensinamento (13, 17). Os sacrifícios faziam parte da solenidade, como a leitura e a oração fazem parte do culto; no entanto, conteúdo específico, por parte da música, não está relatado.

Todo o povo, guiado por Davi cantavam ao Senhor: “Davi e todo o Israel alegravam-se perante Deus, com todo o seu empenho; em cânticos” (1 Crônicas 13.8). Não sabemos o conteúdo exato destes cânticos, mas, evidentemente, manifestavam sua adoração. Porém, é claro neste contexto que o ambiente prevalecia, sendo declarado pela alegria e pelo empenho de todo povo.

2. (1 Crônicas 16.4-5, 23-25; 25.1; 2 Samuel 23.1-2) “Davi, juntamente com os chefes do serviço, separou para o ministério os filhos de Asafe, para profetizarem através da música”. O objetivo de proclamar a vontade do Senhor para o povo; de ensinar; de relembrar quem o Senhor é e o que Ele espera de seu povo. Neste caso é imperativo que o conteúdo da adoração cantada (hinos, hinetos) sejam doutrinariamente corretos. Expressem, com exatidão, as palavras do Senhor.

Diante desta realidade múltipla e ao mesmo tempo integrada, entendemos o porque do esforço de Davi, como rei, em estabelecer uma estrutura toda especial para a adoração através da música. Assim, como entendemos também o porque da exortação de Paulo a igreja quanto ao equilíbrio no cultuar: “Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com a mente; cantarei com o espírito, mas também cantarei com a mente.” (1 Coríntios 14.15). Uma consideração da realidade múltipla da música, em seus objetivos. Mas, também, da realidade integrada, mostrando a necessidade do equilíbrio entre a razão e o fervor, entre a consciência e as emoções.
Poucas coisas ressaltam a beleza da adoração como o faz a música. Deus nos deu cânticos! O livro mais extenso das Escrituras é o livro dos Salmos. A música não é um elemento extra que acrescentamos ao culto, não é preenchimento de espaço. Ela é vital para nossa adoração: “Bom é render graças ao Senhor e cantar louvores ao teu nome, ó Altíssimo” (Salmo 92.1).

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

O silêncio revelador de Deus

“Até quando, Senhor, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-te-ei: Violência! E não salvarás? Por que me mostras a iniqüidade e me fazes ver a opressão? Pois a destruição e a violência estão diante de mim; há contendas, e o litígio se suscita. Por esta causa, a lei se afrouxa, e a justiça nunca se manifesta, porque o perverso cerca o justo, a justiça é torcida.” (Habacuque 1.2-4)

O profeta Habacuque revela sua angústia por duas razões: Primeiramente, a que ocupa a maior parte de sua fala: a injustiça é manifestada em todos os cantos, em todos os momentos, a todas as pessoas. Em segundo lugar, aquilo que o conduz a angústia: o silêncio de Deus. A aparente passividade, ou mesmo omissão de Deus diante de terrível quadro.

Para o profeta este silêncio afrouxa a lei, causando nos homens uma certa arrogância em agir como bem entender, crendo que não será alvo de correção. Mas, acima desta conseqüência, o maior incômodo é o silêncio em si. Como profeta, portanto, porta-voz de Deus ao povo, o silêncio divino o silenciava também; afinal, suas palavras ao povo eram palavras originadas de Deus. O pecado aumenta, a injustiça se alastra, o necessitado olha para o profeta, aguardando direcionamento, e juízo aos opressores, e .... nada! Deus nada diz. Nenhum sinal, nenhum juízo, nenhuma esperança, enfim, nenhuma manifestação.

Dói! Angustia! Queima por dentro e revolta por fora. Mas, por incrível que pareça, Deus, em muitas situações, revela seus sentimentos e vontade com seu silêncio, mais do que com palavras. Temos exemplos nas Escrituras, deste silencio revelador de Deus:

1. Revelando rejeição: “Pelo que, quando estendeis as mãos, escondo de vós os olhos; sim, quando multiplicais as vossas orações, não as ouço, porque as vossas mãos estão cheias de sangue.” (Isaías 1.15).

2. Revelando disciplina, como no caso do silêncio definitivo de Deus para com Saul (1 Samuel 15).

3. Revelando amor sacrificial: “Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante seus tosquiadores, ele não abriu a boca.” (Isaías 53.7).

4. Revelando concordância, como no caso de Jesus diante do sinédrio (Mateus 26.60-63), e diante de Pilatos (Mateus 27.11ss).

Em silêncio o Senhor revelou, poderosamente, sua vontade. Assim, quando em silêncio, não necessariamente, Deus está passivo, omisso, ou mesmo indiferente. O seu silêncio exige de nós, uma voltar-se a ele. Exige uma maior atenção, um mais qualificado tempo. Quando em silêncio, Deus nos coloca para exercitar a atenção, a paciência, a perseverança, a dependência. Deus desperta e fortalece a esperança. Em silêncio, Deus exige mais de nós. Ele nos quebra, e nos angustia; para, então, nos fortalecer; tornando-nos mais resistentes e observadores.

Ame a Deus em seu silêncio!

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

O Reino está aqui

O que é a vida cristã para você?
Em uma palavra, o que Jesus Cristo trouxe para você?
(se for salvação) O que significa?

Creio que a resposta a todas estas perguntas está na expressão: O REINO DE DEUS ESTÁ AQUI. Expressão que João Batista ensinava: o reino está próximo; e Jesus afirmou: o reino é chegado. E por incrível que pareça aos nossos ouvidos pós-modernos isto muda absolutamente tudo. E a proposta não é simplesmente de uma mudança particular, mas sim mundial.

Um escritor relatou a pergunta de uma repórter a um pastor americano por que tantos cristãos de seu país apoiavam firmemente a guerra promovida contra o Iraque se estava claramente contra os ensinamentos de Jesus? “Jesus falou de paz e de reconciliação, de se voltar a outra face, andar a segunda milha, etc..., como conciliar isso com a guerra?”. O pastor respondeu: “Os ensinamentos de Jesus são pessoais, nada tem a ver com política, ou mesmo com política exterior”.

A mensagem de Jesus é pessoal, mas não privativa. Ela tem tudo a ver com questões públicas de um modo geral, e com questões políticas em particular. Jesus chamou sua mensagem de BOAS NOVAS, termo que em si é público. Os imperadores de seu tempo sempre que conquistavam uma vitória importante enviavam mensageiros para anunciar as boas novas. César Augusto, por exemplo, que governou o império de 27 a.C. a 14 d.C., imprimiu suas boas novas na inscrição encontrada em Mira, na Lícia: Divino Augusto César, filho de deus, imperador da terra e do mar, o benfeitor e salvador de todo mundo, lhes trouxe a paz.

Jesus, em seu tempo, dizer que o reino de Deus (um novo reino) era chegado, que estava disponível para ser agarrado, ali, naquele instante, era um escândalo. E a forma como esta mensagem, ou melhor, este reino, foi anunciado, isto é, o meio de comunicação usado foi algo espetacular, que funcionou ali, durante a história nestes milhares de anos, e continua funcionando aqui, hoje. Jesus usou duas ferramentas incríveis: Uma, a comunicação oculta e intrigante das parábolas. Outra, o poder transformador dos milagres.

Assim, a vida espiritual tem tudo a ver com política, esporte, roupa, comida, dinheiro, estudos, profissão, violência, fome, guerras, terrorismo, etc.

(continuarei)
[baseado no livro: A Mensagem secreta de Jesus]