quarta-feira, 16 de maio de 2007

Não deixe de ter fome, não deixe de sonhar

Sem perceber cada ser humano é empurrado a uma vida de rotina cultural, social, profissional, moral e espiritual. Nascemos em meio a uma rotina já existente; crescemos engolindo uma formação goela abaixo, prevalecendo a visão (rotina) dos responsáveis por nossa rotina; e, paulatinamente, nos adaptamos ao ritmo daqueles que já estão na estrada rotineira da vida. Inclua nesta estrada a rotina de ciclicamente mudar alguns costumes, retornando ao anterior, tempos depois, e voltando, retornando, ...
Antigamente, principalmente em algumas culturas, filho de peixe peixinho se tornava, isto é, o filho seguia a rotina do pai. Se, o pai era professor, o filho professor seria; e isto porque seu avô também já o fora. Hoje em dia, a rotina é o filho seguir por outro caminho a fim de ser mais bem sucedido que seu pai, que já fora melhor que seu avô. Rotinas que permanecem e rotinas que vem e que vão por pertencerem à rotina da mudança.

Existem muitas coisas estranhas, que simplesmente aceitamos (vivemos) sem darmos conta de sua origem, valia, ou funcionalidade. Dentre estas coisas estão as rotina moral e espiritual. Moralmente direciona-se a se viver como a maioria, aceitando o que ela aceita, e repetindo seu jeito de ser, mesmo que suas decisões sejam eticamente questionáveis. Em alguns países, como no Brasil, a ética lógica é a indesejada, a chata, a do contra; já a aceitável e querida é a moral do jeitinho que acerta as diferenças, mesmo que estas sejam absurdamente incoerentes. No discurso prevalece a ética, já na prática a estética com a cara e o gosto do grupo em que se vive. Escuta-se o correto com ouvidos surdos e pratica-se o jeitinho com olhos cegos e mãos bobas.

Espiritualmente aprende-se a ser religioso. Em muitos casos, religião é negócio de família. No caso do cristianismo é só escolher entre o ser católico, evangélico ou praticante de alguma seita, e entrar na rotina. Seguir os mandamentos divinos normalmente experimentados através das regras humanas, criando os costumes de cada igreja.

Você que lê este texto, provavelmente seja “evangélico”; talvez “batista”, ou “presbiteriano”, ou “assembleiano”, ou portador de outro nome denominacional. Dependendo de sua rotina, teve formação tradicional, valorizando certos pontos e tendo alergia religiosa a outros. Caso contrário, a formação “liberal” é a que prevalece seguindo a mesma rotina de valorizar certos pontos em detrimento de outros.

Em meio a tudo isto está a pior das rotinas: valorizar a morte. Isto se faz quando se prioriza a religião e se ignora a espiritualidade; quando se troca Deus pela igreja; quando se troca a santidade pelo legalismo; a Revelação pela denominação; quando ao invés de cultuar ao Senhor, em espírito e em verdade, o “crente” segue a rotina da solenidade politicamente correta. A rotina de ser crente cega, tirando a visão espiritual, assim como tira a fome da presença de Deus, levando ao contentamento através dos móveis, do prédio, da administração, do viver comunitário, enfim, imagens, ídolos evangélicos. Esta rotina maldita acaba com a esperança, com o sonho de justiça, de paz, de amor imerecido. É esta rotina religiosa que apaga a chama por missões, tornando o coração frio, insensível ao chamado a fazer discípulos como demonstração de nossa gratidão pelo amor do Mestre, e ao entendimento de que o Senhor quer adoradores “em espírito e em verdade”, e não religiosos.
Não deixe de ter fome de Deus, não deixe de sonhar por uma vida espiritualmente melhor, não seja escravo da rotina, mas sim do Deus sempre maravilhoso e surpreendente.

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