terça-feira, 22 de abril de 2008

Sofrimento que traduz alegria (parte 1)

Por que temos de sofrer? A resposta de que é conseqüência do pecado é suficiente, teologicamente falando; mas, será que Deus é unicamente sistemático, relacionando-se em conformidade com suas considerações dogmáticas para fazer com que o homem entenda e reaja teologicamente? Creio que não.

Quando olhamos para as Escrituras observamos um Deus bem mais voltado para seus relacionamentos do que para suas “aulas” de teologia. Ao contrário do que pensam e determinam alguns, o entendimento teológico é conseqüência do relacionamento de Deus com sua criação. Não é o entendimento teológico que determina o que Deus é, sente e faz; ao contrário, este entendimento é a tentativa humana de moldurar a Deus; não para limitá-lo, o que em muito acontece, mas para torná-lo acessível à mente limitada do homem.

Teologizar é tarefa árdua, pois lida com algumas limitações, que geram tendências e vícios. As limitações existem pela simples, porém profunda, compreensão de que a limitadíssima criatura precisa pensar e compreender o ilimitado Criador. É tarefa desproporcional para o mortal pensar no Imortal, colocar em moldes finitos a eternidade. O tempo e, principalmente, a ausência deste, limita a abrangência e as considerações, levando o discurso a ser em muito subjetivo, isto é, sentido, porém impossível de ser descrito absolutamente.

As tendências, por sua vez, existem no conformar o Criador à grade particular de cada pessoa, de cada movimento (ou linha) teológico. Cada movimento estabelece seus “sim” e “não”, seus “prós” e “contra” no entendimento de Deus e de sua vontade, conforme a herança de sua formação, enquadrando o Criador dentro de sua cosmovisão. Muitos se acomodam a esta realidade por perceber que todos são indiscutivelmente passíveis de tal tendência. Muitos, sequer conseguem teologizar, pois gastam todo seu tempo e energia no difícil exercício da busca de uma maior honestidade hermenêutica.

Porém, a limitação observada nesta tendência torna-se um vício quando o “pesquisador” assume o lugar do “pesquisado”, fazendo do laboratório toda a expressão da realidade do mundo pesquisado. Resumindo, quando o teólogo torna-se “deus”, invertendo assim a ordem revelada: ao invés de sermos criados à imagem e semelhança do Criador, o pesquisador torna Deus à imagem e semelhança da criatura, o homem. Isto se dá quando o teólogo estabelece o que Deus é, sente e faz; dando às suas próprias observações (interpretações) um valor absoluto com status divino. Esta tendência de fazer Deus gostar e falar aquilo que gostamos, ou de não gostar daquilo que não gostamos, engaiolando o Criador como um pássaro que come e bebe o que damos; empobrece a arte da teologia, assim como seu resultado.

Assim, na arte de teologizar, um dos primeiros exercícios do bom pesquisador é o de questionar suas “descobertas”: é o Criador ou sou eu quem estabelece isso? Para muitos, o exercício não passa deste ponto; porém, para os que o ultrapassa, conhecer, entender e viver o Senhor torna-se a mais bela e responsável tarefa a ser experimentada. Bela pela expressão possível do Senhor e pela perplexidade das descobertas; responsável pela seriedade no viver e comunicar aquilo que, por graça, tenha chegado até nós.
Com estas considerações voltemos ao início do texto: Por que temos de sofrer? Se permitido, continuaremos no próximo texto a ser postado.

2 comentários:

André Cerqueira disse...

É muito bom pesquisar para obtermos respostas, mas nem sempre as respostas serão a verdade de Deus ou uma verdade comum a toda humanidade. O relacionamento é a diferença para alguns e a tristeza para outros. Seja por orgulho ou por necessidade. Bom seria se o ou os relacionamentos fossem por amor. Até mesmo com Deus...Sofrer muitas vezes é um ponto de vista..., bem como alegria...
Legal o artigo, post...

Anônimo disse...

Aguardemos então a conclusão no próximo texto.
Mas não poderia deixar de comentar que a foto ficou sensacional! KKKKKKKKK.