segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Começa no coração

Um ex-aluno do Seminário Batista Regular em São Paulo, e ex-membro de nossa igreja, manifestou, após ingressar no seminário sua surpresa com as exigências ministradas. Já possuía duas formações acadêmicas seculares, de nível elevadíssimo; mas ficou positivamente perplexo com o nível de nossa formação teológica.

De todas as possíveis, sabe qual a principal razão deste nível de exigência?

É que não trabalhamos somente com o conteúdo, visando às ferramentas para exercer o ministério. Trabalhamos o caráter. Aliás, partimos da formação do caráter; e prosseguimos com esta formação até o fim; por entendermos a clara exigência de nosso Senhor, e sua lógica de que produzimos aquilo que possuímos; fazemos aquilo que somos.

Um rápido olhar nas Escrituras, autentica esta afirmação (Atos 6.3; 2 Timóteo 2.1-2; Tito 1.5-9). Não importa a área de atuação, ou mesmo se tratamos de leigos ou ministros; a ordem da exigência é a mesma: caráter, para depois ação. O interior, para depois o exterior.

Para o sucesso da formação, e, posteriormente, do ministério, é fundamental a compreensão de que estamos preocupados não simplesmente em conceder conteúdo, visando a atividade; mas, que antes mesmo disso, estamos preocupados com o tipo de pessoa que o aluno é, e o tipo de pessoa que o aluno está se tornando; pois entendemos à luz das Escrituras que essencialmente isto determinará o tipo de ministério que terá.

1 Timóteo 4.12-16 (rápidas considerações):

Você é jovem! (mesmo que seja na formação). E daí? Isto não é problema, desde que assuma o padrão do Senhor em sua vida: "Ninguém despreze a tua mocidade; pelo contrário, torna-te padrão dos fiéis, na palavra, no procedimento, no amor, na fé, e na pureza".

Como este padrão é observado?

1. No conhecimento do Senhor. No inculcar de seus princípios. No respeito, na consideração à sua vontade manifestada através das Escrituras. É fundamental se lembrar: O temor do Senhor é o princípio da sabedoria. Isto está na "palavra" do v.12, mais o v.13: Até à minha chegada, aplica-te à leitura, à exortação, ao ensino.

2. Na maneira de agir ou de reagir àquilo que se aprende, e que é, conseqüentemente, esperado. Isto está no "procedimento" do v.12, mais o v.14: Não te faças negligente para com o dom que há em ti.

3. No amor pelo Senhor, expressado no cuidado e na vontade do que fazemos; e no cuidado em nosso relacionar com o próximo. Isto está no "amor" do v.12, mais no v.15: Medita estas coisas e nelas sê diligente, para que o teu progresso a todos seja manifeto. diligência vem do verbo latino diligere, que significa amar. Diligente significa aquele que ama. A virtude da diligência consiste no carinho, alegria e prontidão com que pensamos no bem e nos dispomos a realizá-lo da melhor forma possível. Dedicar-se inteiramente por amor e com amor; isto é, amar de tal maneira que o progresso se torna manifesto a toda e a qualquer pessoa.

4. Na firmeza da fé. Crescendo na convicção daquilo que considera nas Escrituras. Não deixando de assumir posição, diante das oportunidades. Isto está na "fé" do v.12, mais o v.16: Tem cuidado da doutrina.

5. Na pureza de sua alma. Isto é fundamental, como observamos no início; tão fundamental que todas as outras possíveis manifestações do padrão de Deus para nossa vida, dependem essencialmente desta.

Há muitas pessoas competentes na arte de estudar, na prontidão em agir ou reagir, na firmeza de suas convicções; que, no entanto, não conseguem servir adequadamente, por não possuírem pureza em suas motivações, agradando assim ao Senhor.

Como o próprio Senhor disse a Samuel: O Senhor não vê como vê o homem. O homem vê o exterior, porém o Senhor, vê o coração.

Por isso, Paulo afirma a Timóteo: Tem cuidado de ti mesmo. Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina, expressando a idéia de tornar a doutrina encarnada; sendo ensinada, e preservada, através de nosso viver.

Fazendo assim, serás bem-sucedido.

A formação de quem ministrará ao Senhor, e pelo Senhor, começa no coração. É um processo. Às vezes doloroso. Mas, fundamental para o viver da salvação, além daqueles que estarão debaixo de sua liderança.

A formação começa no coração!

3 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom o texto.

É curioso. Sou formado em Matemática Aplicada pela USP e hoje sou aluno do Bacharelado em Teologia no SEBARSP.

Me lembro que, quando ainda era aluno do curso de Matemática, enchia o peito de dizia: "Sou aluno da USP", e isso me trazia um grande respeito e admiração da parte da maioria das pessoas.

Hoje, quando alguém me pergunta sobre o meu "novo curso", depois de um momento de espanto (eles tentam disfarçar, mas normalmente não conseguem), sempre vem a pergunta: "Onde você estuda?"

- No SEBARSP, um seminário batista no centro de São Paulo.

Imediatamente após a resposta, sinto uma certa decepção na pessoa que perguntou e, admito, às vezes eu também compartilho deste sentimento.

Mas depois me lembro dos responsáveis pelo SEBARSP e seu compromisso com a excelência teológica ensinada, sem contar a preocupação com a construção do caráter em seus alunos. Então me sinto envergonhado por ter deixado um sentimento de orgulho (ou falta dele) ser maior do que o que realmente importa.

Este é o desabafo de alguém que, provavelmente, não sofre sozinho deste vergonhoso sentimento que, por vezes, vem à tona. Mesmo assim luto constantemente para compartilhar o ideal do SEBARSP de dar sempre glória a Deus e, assim, colocar um grande sorriso em seus lábios.

Agora, o que os homens pensam academicamente desta escola (inclusive alguns cristãos), pouco importa.

Mozart Paulino disse...

Como sempre, mais um excelente texto.

Interessante é que ainda existem alunos que fazem menos matérias, às vezes somente o Intensivo no começo do Semestre (como foi o caso de um aluno no semestre passado), e ainda consegue ser reprovado. E o mesmo afirma que tem chamado para ser missionário.
Talvez seja pelo fato de não conseguir administrar o namoro com os estudos.
Apesar que seu comportamento nas aulas geralmente não era respeitoso para com os professores, principalmente no momento da chamada, não querendo dizer "presente", ou algo parecido, mesmo tendo um dos tais como seu pastor.
Como você foi meu professor, o qual admiro muito, não esqueço das suas palavras quando dizia na saula de aula: "O que você é no seminário, refletirá no seu ministério".

Um grande abraço

Addson Costa disse...

Olá, Wagner. Tudo bem?

Interessante como a formação teológica não é apenas uma (in)formação acadêmica. Pude também presenciar esta alegria aqui também no SIBB com diversos irmãos, alunos oriundos de nossas universidades seculares. Um deles em particular, Arquiteto, não deixava de mencionar o quanto jamais poderia imaginar como o ensino em um seminário poderia ser mais elevado que as cadeiras pagas na universidade. Hoje, o arquiteto se chama Pastor Raimundo Evangelista e ministra em uma de nossas igrejas aqui em Natal. Esse é um dado importatíssimo de nossa formação. Acredito também que isso ocorre porque por mais que o homem saiba neste mundo, a Palavra de Deus será sempre uma necessidade.